A formação do Benfica está em especial destaque na CNN Internacional esta sexta-feira, numa reportagem assinada por Matias Grez e Jack Bantock que destaca o Centro de Estágios do Seixal como uma «fábrica de talentos» e apresenta o exemplo das vendas de João Félix e Rúben Dias que, por si só, geraram receitas superiores a 200 milhões de euros. O canal falou com António Silva, um dos campeões da Youth League, que refere-se a Rúben Dias como referência e fala das condições que o Benfica proporciona para os jogadores progredirem.

Uma «fábrica» que tem alimentado os principais clubes europeus, com transferências recorde, com jogadores como Ederson, Renato Sanches, Gonçalo Guedes, além dos já referidos Félix e Rúben Dias, só para citar alguns. O segredo, segundo explica Rodrigo Magalhães, coordenador técnico do Benfica Campus desde 2005, está na forma como o clube aposta na formação das futuras estrelas como seres-humanos, antes de serem jogadores.

Cerca de 95 jogadores vivem na academia do Benfica até aos sub-18 ou sub-19, altura em que se mudam para as respetivas casas ou apartamentos na cidade. «Na nossa opinião, é nessa idade que eles começam a ter a própria vida. Alguns têm namoradas, outros juntam-se dois ou três no mesmo apartamento. Começam uma vida fora da academia, pois precisamos prepará-los para viver as suas vidas, porque sabemos que uma pequena percentagem de jogadores atingirá o objetivo de jogar na equipa principal ou nas principais ligas da Europa», explica Rodrigo Magalhães ao canal norte-americano.

«Depois dessas idades, sub-19 e sub-23, normalmente todos os jogadores que progridem [da academia] podem jogar nas primeiras e segundas divisões aqui em Portugal ou noutros países, mas temos de os preparar para o caso do futebol falhar», acrescenta.

É nesse equilíbrio que assenta o sucesso da formação do clube português. «O primeiro objetivo foi desenvolvê-los como seres-humanos e precisamos prepará-los com um forte desenvolvimento académico também», destaca Rodrigo Magalhães.

O sucesso na Youth League

Na época passada, o Benfica conquistou finalmente o troféu mais cobiçado do futebol de formação: a UEFA Youth League. Depois de perder três finais consecutivas, o Benfica conseguiu finalmente o troféu com uma vitória robusta sobre o Salzburg (6-0), um resultado que atraiu olhares de admiração de muitos dos maiores clubes da Europa.

«Todos estão muito orgulhosos desse momento porque foi um processo que não começou naquela temporada», diz Magalhães. «Muitos desses jogadores começaram connosco quando tinham seis anos, outros dez anos, onze anos».

«Precisamos olhar para todas as pessoas que trabalham com eles – treinadores, assistentes técnicos, professores, departamento social, departamento de scouting – todos aqui têm uma parte especial nesse momento».

Magalhães conta que cerca de 90 por cento do plantel que venceu a UEFA Youth League começou a jogar no Benfica Campus entre os sub-6 e os sub-12.

Embora o Benfica tenha a sua sede principal em Lisboa, também possui cinco centros de formação espalhados por Portugal, que permitem ao clube procurar e cultivar os melhores talentos de todo o país.

No plantel para as meias-finais e finais, Magalhães diz que houve jogadores de todos os seus centros de formação - do norte, sul e centro de Portugal - um feito de que se orgulha imenso, pois é a prova de que o projeto que o Benfica lhe confiou tem dado frutos.

Mas mesmo que não tivessem conquistado o troféu na temporada passada, Magalhães ainda teria visto a participação da equipa como um sucesso. Nas oito temporadas desde o início da Youth League, o Benfica chegou a quatro finais, um recorde que apenas o bicampeão Chelsea conseguiu igualar.

«Mais do que ganhar o troféu, é a regularidade», diz Magalhães. «Se formos uma equipa que vai uma vez em cinco anos à meia-final ou à final, tudo bem, é bom para nós. O nível mais alto em comparação com outras equipes na Europa. Para nós, a regularidade é sinal de que nosso trabalho está a correr bem», prossegue.

Com o Benfica incapaz de rivalizar com os clubes mais ricos da Europa - como Manchester City, Real Madrid ou Paris Saint-Germain - para transferências de jogadores, Magalhães sabe que o melhor caminho para o sucesso da equipa principal é cultivar o seu próprio talento.

António Silva é o futuro Rúben Dias

António Silva faz parte da atual safra de jogadores em ascensão na academia do Benfica e também esteve na campanha vitoriosa da UEFA Youth League da época passada. O central de 18 anos ingressou no Benfica em 2014 e, dada a sua posição, espera naturalmente seguir as pisadas de Rúben Dias que foi para o Manchester City, em 2020, por 68 milhões de euros.

António Silva ainda veste a camisola 66 que Rúben Dias vestiu enquanto esteve no clube. «Eu admiro muito Rúben», disse o jovem central à CNN Sport. «Ele começou a jogar aqui e vejam todas as coisas que ele já conquistou no Manchester City e também pelo Benfica. É uma pessoa para se admirar e é importante para mim ter as minhas referências para chegar ao topo», comentou.

«Os clubes portugueses trabalham muito com jovens, por isso é importante para nós ter esse tipo de jogadores que chegam ao topo e jogam nas principais ligas como a Premier League e La Liga, como Nuno [Mendes] que está no PSG».

António Silva descreve-se como um defesa moderno, confortável com a bola nos pés e capaz de jogar bolas longas ou sair a jogar com os pés. Assim como Rúben Dias, António Silva inspira-se em Virgil van Dijk, do Liverpool, e Antonio Rüdiger, agora no Real Madrid.

No entanto, o jovem central português sabe que nenhum sucesso pessoal e coletivo dos jogadores seria possível sem a dedicação das centenas de funcionários que trabalham nas bases do Benfica pelo país. «O Benfica tem muita gente que trabalha para nós, que nos dá tudo e isso é o mais importante», explica. «O Benfica Campus é importante, mas as pessoas que trabalham connosco? São mais importantes», conta ainda António Silva.