Taiúva, interior de São Paulo, seis mil habitantes. Vizinhos conversam à janela, crianças saltam muros atrás de bolas perdidas, cães e gatos passeiam-se em liberdade, campainhas de bicicletas interrompem o silêncio quase permanente.

Na casa do senhor Ismael, professor de Matemática e Desenho Geométrico, e da dona Maria Luiza, professora de Ciências Naturais, três meninos correm sem parar. Depois do futebol vão para o lanche e do lanche voltam para o futebol.

Tiago é o mais velho. Diego tem menos três anos. Jonas, o caçula, chega ao mundo de forma imprevista. «O nosso irmão do meio diz que ele tem de ser especial. Um predestinado. Está cá e não devia estar, os meus pais foram surpreendidos».

JONAS: o goleador sem escolaridade obrigatória


A infância passa devagar. «No campinho da nossa casa, todos os dias eram dias de futebol», recorda Tiago, na conversa com o Maisfutebol.

Jonas, o novo goleador do Benfica, cresce assim. Numa família serena e num campo só com uma baliza. «O espaço era pequeno. Tínhamos o piso de terra e só essa baliza. Acredito que esse aspeto foi determinante para ele só ter olhos para o golo».

Além das características especiais do campo, Jonas tem também adversários de envergadura superior. E é obrigado a melhorar muito depressa. «Ele sempre jogou contra gente mais velha. Eu tenho 38 anos, o meu irmão Diego tem 35 e o Jonas só 30. Ou seja, nos nossos jogos ele era sempre o mais pequenino».

Depois, lá está, a crueldade sem malícia dos irmãos faz o resto. «O Diego entrava sempre durinho sobre o Jonas. Muitas vezes os jogos não acabavam. De repente lá ia a bola para o vizinho e a minha mãe vinha acalmar toda a gente», conta Tiago Oliveira.

No final há sempre «um chá ou uma canja» para toda a gente. «A nossa casa estava sempre cheia de amigos, alguns até dormiam lá. O Jonas teve sempre este ambiente incrível e por isso adiou sempre a saída para um clube de outra cidade».

De «pior avançado do mundo» a avançado consolidado


Em dias de maior calor, o churrasco comunitário junta a rua toda. Entre uma coxa de frango e uma fatia de picanha, a criançada faz jogos de três para três. «A habilidade do Jonas vem também daí. Jogos curtos, intensos e com balizas de 50 centímetros por 60. O campinho de casa e a rua ensinaram-lhe tudo»
, acrescenta Tiago.

Jonas é bom aluno na escola, ama o futebol e também as piscinas. «Ele era um excelente nadador e um jogador exímio de polo aquático. Esse aspeto foi bom para o desenvolvimento muscular do tronco e dos braços».

A vida afasta Jonas do curso de Farmácia e coloca-o nos trilhos do futebol. O responsável-mor talvez seja Donizete Lima. Tiago Oliveira elogia o mentor e conta, «pela primeira vez em público», o que o irmão mais novo está a fazer pelo velho amigo.

«O Jonas soube das dificuldades financeiras dele e fez questão de regularizar a situação do senhor Donizete perante o Governo. Dessa forma garantirá que o nosso amigo terá uma boa reforma. Sou eu, enquanto advogado, que trato dessa situação».

Jonas está «quase casado e tem uma filhinha». Em Lisboa pretende «continuar a ser feliz» e a viver da forma que sempre viveu. «Em liberdade, mas com muita responsabilidade».

E longe, muito longe, está o período em que lhe chamaram «o pior avançado do mundo». Por culpa deste lance que correu todo o mundo: