Rui Costa garantiu em tribunal confiar nos responsáveis pelos contratos sob suspeita no processo “Saco Azul”. Nesta quarta-feira, o presidente do Benfica admitiu temer que o caso prejudicasse a equipa de futebol.
«Quando o caso foi tornado público, sentimos mais revolta do que preocupação, até porque sabemos que muitas vezes isto se reflete em campo. A revolta foi grande internamente, mas o foco passou a ser dentro do campo. Tememos o medo de que os árbitros poderiam sentir ao apitar o Benfica.»
«A acusação não faz a relação entre o dinheiro e o seu uso», argumentou.
Rui Costa, o primeiro a depor, na qualidade de representante da SAD do Benfica, garantiu que nada o leva a crer que os contratos em causa «não tenham sido úteis e importantes para o clube», admitindo que «muitos dos contratos eram assinados sem passar pelo Conselho de Administração», sendo feita uma súmula dos mesmos por Miguel Moreira, à data diretor financeiro (CFO) e também arguido no processo.
«Grande parte desses contratos passavam pelo Miguel Moreira, ele tinha autonomia, o Luís Filipe Vieira [presidente do Benfica à data dos factos] não tinha conhecimentos de tecnologia informática. Nunca tive conhecimento da circulação de grandes quantidades de dinheiro vivo no clube», acrescentou.
Neste processo, que começou esta quarta-feira a ser julgado no Juízo Central Criminal de Lisboa, está em causa um alegado esquema de pagamentos fictícios a uma empresa de informática externa ao grupo Benfica, a Questãoflexível, num valor que ultrapassa 1,8 milhões de euros.
Na sessão da tarde foram ouvidas, durante mais de duas horas, as declarações de José Bernardes durante a fase de instrução, sendo que, depois, perante o coletivo, o arguido respondeu a várias questões, mas não quis falar sobre as transferências de dinheiro do Benfica para a empresa.
José Bernardes, da empresa QuestãoFlexível, admitiu que, «relativamente a contratos, falava sempre com Miguel Moreira», e garantiu que nunca esteve com Luís Filipe Vieira, que liderou o clube entre 2003 e 2021.
O arguido explicou detalhadamente a cedência de posições em duas empresas relativamente a serviços prestados ao Benfica, bem como a criação da empresa QuestãoFlexível Lda, criado por ele e pela mulher e que tinha o Benfica como único cliente.
José Bernardes vai ser ouvido de novo a 8 de maio, sessão na qual vai também falar Luís Filipe Vieira.
De acordo com a acusação, confirmada em junho do ano passado por um juiz de instrução, o ex-presidente do Benfica é suspeito de três crimes de fraude fiscal qualificada e 19 de falsificação de documento.
Domingos Soares de Oliveira, antigo administrador – que está fora do país e só vai marcar presença em tribunal em julho – e o ex-diretor financeiro do clube Miguel Moreira também são arguidos.
Num processo no qual são também arguidos Paulo Silva e José Raposo, a Benfica SAD está acusada de dois crimes de fraude fiscal qualificada e a Benfica Estádio de um crime de fraude fiscal e 19 de falsificação de documento.