Ao longo da temporada, muitos dos 31 utilizados por Rui Vitória na conquista do 35º campeonato tiveram oportunidade para brilhar a grande altura. Mas numa perspetiva de conjunto, há sete figuras que se destacam claramente das restantes. Bem, na verdade são oito nomes próprios, num lote de sete figuras. Complicado? Talvez. Mas não tão complicado como o trajeto do Benfica até à conquista do título.

JONAS

Caso sério de classe, nada intimidado com o difícil segundo álbum, depois de uma época de estreia brilhante. Melhor marcador da Liga, com 32 golos – melhor registo desde os tempos de Mário Jardel - o avançado brasileiro encontrou na Luz um segundo fôlego que nem as expetativas mais otimistas poderiam prever, depois das dificuldades encontradas em Valência. Entrando cedo a marcar, ajudou a fazer esquecer a partida de Lima, conseguindo uma regularidade goleadora ainda mais surpreendente. Os seus 32 golos, distribuídos por 20 jogos, escrevem grande parte do sucesso encarnado. Ainda que continue a não ser decisivo nos confrontos diretos com os rivais, golos como os que marcou ao cair do pano diante do Moreirense e do Boavista valeram vitórias tangenciais com um bónus psicológico tremendo.

RENATO SANCHES

O fator de mudança que trocou todas as contas da Liga. A 10 de novembro, Pedro Barbosa defendia, na MF Total, a ideia de que Renato Sanches devia ser a aposta de Rui Vitória para estabilizar um meio-campo encarnado à deriva. Tinha razão: titular pela primeira vez na determinante vitória em Braga, a 30 de novembro, Renato tornou-se incontornável figura da prova, e uma das novidades mais refrescantes dos últimos anos no futebol português. A potência física, aliada a uma forte personalidade, fez toda a diferença no aparecimento do segundo Benfica. E, mesmo que por vezes ainda tenha de melhorar a lucidez nas opções, isso permitiu-lhe chegar à seleção e chamar a atenção da Europa. Seis meses bastaram para um contrato com um dos melhores clubes da atualidade – e é tudo menos um acaso que o Benfica tenha ganho 20 dos seus 22 jogos em que foi titular na Liga.

MITROGLOU

Nada fácil –mesmo nada fácil! – assumir a herança deixada por Lima. Mas, à semelhança do sucedido com Rui Vitória, o tempo foi o seu melhor aliado, até se esbaterem as desconfianças provocadas pelo jeito algo desengonçado. Serviu de arma de arremesso no prolongado pingue-pongue entre Luz e Alvalade, com o Sporting a garantir que não o contratou por opção, mas a verdade é que, depois dos narizes torcidos e das dúvidas acerca de uma eventual incompatibilidade de estilos com Jonas, formou com o matador brasileiro uma dupla temível, a que juntou a propensão para golos em momentos decisivos. O mais marcante dos 19 que apontou na Liga aconteceu na vitória em Alvalade, claro. Mas os que apontou no Estoril e ao Marítmo, na Madeira, também são momentos altos no desfecho do campeonato.

JARDEL

A sexta época na Luz, e a primeira sem Jorge Jesus como mentor, foi aquela que lhe permitiu afirmar-se em nome próprio, não apenas como complemento utilitário de jogadores bem mais como David Luiz, Garay e Luisão. Não é um caso natural de classe, mas a velocidade, a eficácia no jogo aéreo, a determinação e, ainda, uma experiência aprimorada pelos anos, fizeram dele, a partir da lesão de Luisão, em novembro, a referência defensiva do Benfica e um dos líderes naturais da equipa. Muito boa a dupla formada com Lindelof, ajudando à afirmação do sueco. E os golos que valeram vitórias, diante de V. Guimarães e V. Setúbal, na reta final do campeonato, cimentaram ainda mais o seu estatuto de figura da temporada.

FEJSA

Outro caso de um jogador que só aos poucos conquistou unanimidade entre os adeptos – embora os problemas físicos sempre fossem um obstáculo para a sua afirmação e chegassem mesmo a lançar dúvidas sobre a possibilidade de voltar a competir ao mais alto nível. A resposta não podia ser mais categórica: com menos presenças no onze do que Samaris (15 contra 19), acabou por ser a âncora mais visível do meio-campo encarnado na reta final da Liga, tornando-se o complemento ideal para a mobilidade, por vezes excessiva, de Renato Sanches. Com sentido posicional a toda a prova e uma capacidade de recuperação de bolas muito acima da média, foi o ponto de estabilidade numa equipa de dinamismo crescente. É campeão pelo nono ano consecutivo, mas este é o seu título português com marca mais forte.

PIZZI

O rótulo de jogador mais caro na história do clube começou por pesar. Mas se há um Benfica antes e depois de Renato Sanches, é justo reconhecer que a mudança de papel de Pizzi, no meio-campo encarnado foi um fator igualmente decisivo nas duas caras exibidas pelo campeão, entre 2015 e 2016. A sua fixação num papel de falso ala, aproveitando a baixa forçada de Salvio e a quebra de Gonçalo Guedes, acabou por ser uma das chaves táticas para o sucesso da fórmula-Vitória: melhorou muito a capacidade de jogo interior da equipa, acrescentando-lhe, com e sem bola, um equilíbrio superior ao que esta exibia com um extremo fixo na linha. Oito golos e seis assistências são o sinal mais evidente de uma grande temporada.

JÚLIO CÉSAR/EDERSON

A figura é só uma - o homem da baliza - mas o mérito é a repartir por dois nomes próprios. Tal como em 2013/14, o Benfica termina a época com um jovem guarda-redes, vindo do Rio Ave, a encher a baliza e a justificar elogios rasgados – e, neste caso, mesmo a chamada à seleção brasileira. Mas se, neste particular, o trajeto de Ederson – dez vitórias em outras tantas jornadas na Liga, com apenas cinco golos sofridos - faz lembrar o de Oblak, a diferença está no antecessor. Como na época anterior, Júlio César foi um dos esteios da equipa, de agosto até final de fevereiro, quando um problema físico lhe fez perder a titularidade antes do decisivo dérbi com o Sporting.

Se estas foram as sete figuras mais destacadas do título encarnado, é justo sublinhar que a equipa de Rui Vitória beneficiou, também, em fases determinantes da época, do rendimento de alguns atores secundários de grande importância. É o caso de Samaris, que em abril perdeu a titularidade e o protagonismo que assumiu em grande parte da época – é justo lembrar que o grego foi um dos melhores na fase mais difícil da época, adaptando-se a central em dois jogos determinantes da temporada, em São Petersburgo e no Bessa.

Menos influente do que em outras épocas, Gaitán não deixou de ter protagonismo, sendo a figura na goleada ao Nacional, para a festa, e, já agora, o jogador da Liga com mais assistências (15). Titular em apenas oito jogos, Jimenez saiu do banco em mais 20. Ao todo, marcou cinco golos, dois dos quais – nas vitórias em Coimbra e Vila do Conde – fundamentais na caminhada para o título.

Lindelof entrou neste filme a meio – em janeiro, mais precisamente – mas foi absolutamente decisivo nos 15 jogos para a Liga em que foi titular, exibindo consistência e maturidade acima da média. Nas mesmas circunstâncias, Mehdi Carcela foi uma alternativa muito válida ao eclipse de Gonçalo Guedes e às ausências por lesão de Salvio e Gaitán.

Uma referência final para Eliseu e André Almeida, dois jogadores que raramente estão entre os favoritos dos adeptos, mas que deram solidez às laterais – o primeiro terá mesmo conseguido, aos 32 anos, a sua melhor época no futebol português.