Maio de 2016, Campeonato da Europa de sub-17. A Alemanha chega às meias-finais apoiada numa dupla de ataque demolidora: Renat Dadashov é o menino bonito do RB Leipzig e marca três golos, incluindo um na eliminação frente à Espanha; Kai Havertz é o diamante do Bayer Leverkusen e o parceiro perfeito do rapaz de origem azeri.

Três anos e meio depois do torneio – conquistado por Portugal -, Havertz já soma sete internacionalizações pela principal representação da Mannschaft e continua a ser a referência maior do Bayer; Dadashov, o goleador-mor do primeiro parágrafo, vive e joga no portuguesíssimo Paços de Ferreira.

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Dois homens de área separados às custas dos problemas disciplinares de Renat. Outros tempos, outros dias. O avançado jura, aos 20 anos, ser um futebolista diferente e completamente focado na profissão.

É ele o guia do Maisfutebol na apresentação do adversário do Benfica na Liga dos Campeões.

«Joguei no Leipzig três épocas. Entrei no clube com 15 anos e saí aos 18 para o Eintracht Frankfurt», conta Renat Dadashov, cujo passe pertence ao Wolverhampton. Já lá iremos. Por ora, foco total no oponente das águias.

«O clube tem condições inacreditáveis. A academia do Leipzig, onde vivi, é das melhores do mundo. Estamos a falar de oito campos de relva natural, um hotel, refeitório fantástico, enfim, tudo o que um profissional pode pedir.»

Dadashov afirma, de resto, ter aprendido «a viver» às custas do «apertado» código de conduta deste RB Leipzig. «Digo isto com orgulho: tornei-me um homem melhor lá no clube, apesar de ter passado por alguns problemas. Nunca me faltou nada e só saí porque, a dada altura, eu e os dirigentes percebemos que os nossos caminhos teriam de se separar.»

Renat Dadashov com a camisola do RB Leipzig

«O Leipzig tem tudo para ser um grande da Alemanha»

Renat Dadashov é filho de pais azeris, mas nasce já na Alemanha, na cidade de Rudesheim, próxima de Frankfurt. O pai é um antigo internacional pelo Azerbaijão de pólo aquático e a mãe é uma ex-andebolista famosa. Família de desportistas.

O avançado do Paços começa a jogar no Eintracht, mas ruma a Leipzig ainda adolescente. «O clube foi formado em 2009 e no início não tinha adeptos, era olhado de lado por ter uma forte influência de uma marca. A verdade é que agora, dez anos depois, tem o estádio sempre cheio. O RB Leipzig conquistou toda a gente da cidade.»

Nos três anos com o clube da Saxónia, Dadashov treina «regularmente» com o plantel principal e conhece de cor e salteado todos os nomes. «O Leipzig pode sonhar com algo grande na Liga dos Campeões», assegura.

«Estar ali rodeado de tanto talento mostrou-me para onde queria ir. O Leipzig tem condições fantásticas para ser um grande da Alemanha. A equipa atual pratica um futebol intenso, muito rigoroso, e coloca problemas a qualquer adversário.»

Afinal de contas, o que pode o Benfica conquistar na Alemanha? «Estou a elogiar o Leipzig, sim, mas o Benfica também é muito grande. Acredito num jogo equilibrado, muito dividido, pode cair para qualquer lado», responde Renat Dadashov.

O avançado pacense é «apaixonado pelo Bayern Munique desde sempre» e explica, ainda, a opção por Portugal em 2018. «Há dois anos estava a viver os piores dias da minha carreira. Fiz coisas erradas e precisava afastar-me do futebol alemão. O Estoril-Praia deu-me a possibilidade de jogar a um bom nível e acabei por assinar quatro anos pelo Wolverhampton. Fui cedido ao Paços e quero aproveitar ao máximo a experiência.»

Dadashov no dia da apresentação no Wolverhampton

O que aconteceu há dois anos? Dadashov foi suspenso e afastado pelo Eintracht Frankfurt. Os golos e as grandes exibições dentro do campo contrastavam, até dada altura, com um coração demasiado quente e uma mente demasiado libertina.

Portugal faz-lhe bem. «Gostei muito de viver em Cascais e de jogar no Estoril [27 jogos/4 golos] e também estou a adorar o Norte. Estou em Paços, perto do Porto, e ansioso por ter mais oportunidades e mostrar o meu valor.»

Nascido na Alemanha e internacional jovem pelas seleções germânicas, Dadashov opta enquanto sénior pela equipa do Azerbaijão. O sangue azeri corre-lhe nas veias e o atacante pacense já soma seis internacionalizações, a última frente à Eslováquia, a 19 de novembro.

No Paços soma sete jogos oficiais e um golo decisivo em Loulé para a Taça de Portugal. Com o RB Leipzig, o Eintracht Frankfurt e o Wolverhampton no currículo.