No final, o resultado não agrada a ninguém. Ou melhor, a ninguém que estivesse na lide desta noite na Luz. O dérbi acabou com golos, demorou a ter emoção, mas nem deixou o Benfica mais descansado, nem relançou o leão para o que seja.

Mas ainda que tivesse demorado, o jogo por si só, quando se esquece a classificação, valeu muito a pena. Teve a incerteza do resultado, teve quatro golos, teve exibições boas, alimentou esperanças de um lado e outro… para que tudo redundasse num empate. É romantismo no seu esplendor.

O dérbi cumpriu-se, mas demorou

O dérbi, aquele dérbi de verdade, começou aos 20 minutos. Antes, este Benfica-Sporting parecia coisa de duas equipas de países diferentes. Estava a faltar alma, paixão, tensão até. Era um jogo sem cor pela falta de oportunidades. Isto para não abusarmos do chavão: dérbi-tático. Como se não fossem todos. Nesse tempo, diga-se, o Sporting superiorizou-se, foi melhor, deu a sensação de estar mais confortável.

Mas apesar do livre de Porro para parada de Vlachodimos, Benfica e Sporting não cumpriam o que o dérbi sempre promete: grandes jogadas e golos, até porque 0-0, em mais de 300 jogos destes, nem duas dezenas são.

O dérbi começou a cumprir-se então quando Enzo Fernández descobriu João Mário para a primeira oportunidade numa das áreas: Adán resolveu-a.

O que se seguiu foi Benfica-Sporting em estado puro. A revolta leonina alegando uma falta de Otamendi sobre Paulinho, o contragolpe das águias com Rafa na cara de Adán e, entre lutas, duelos, braços no ar e palavras feias ditas nas bancadas, o Sporting marcou.

Até de quem era o dérbi nesse momento? Muito provavelmente, de Manuel Ugarte. O uruguaio fazia notar-se, ganhava duelos, abria jogo, criava uma exibição plena, para ora Trincão, Paulinho ou Edwards darem apoios frontais e o leão sair para o ataque.

Enquanto Florentino não melhorou, a batalha do miolo ganhava-a a camisola 15 leonina, como Porro ganhava a linha, dava a bola a Edwards e Bah metia o 1-0 na baliza que ele devia defender.

Mas como se disse, este era um dérbi que, pelo resultado, pela altura da temporada não vai ser recordado com outros, mas que serve perfeitamente para exemplificar o que a história destes dois emblemas acarreta: um bater mais forte no peito quando se defrontam.

Foi mais com esse sentimento do que propriamente ser líder da Liga que a águia se atirou ao rival e chegou ao empate dez minutos depois. O leão atreveu-se a deixar Rafa com a bola na área, Gonçalo Ramos antecipou-se a Inácio e o «pistoleiro» começou a escrever a sua própria narrativa do dérbi eterno.

Ninguém alerta para o melhor marcador da Liga

A primeira parte terminou com a chama da rivalidade acesa, as veias visíveis e os dentes cerrados, com o Benfica a tentar ganhar momento depois da igualdade.

O segundo tempo trazia mais expectativa do lado encarnado por isso mesmo e por este ser o estádio da Luz. O apoio dos adeptos, porém, esfriou mal Soares Dias apontou para a marca de penálti e Pedro Gonçalves, quando ainda a segunda parte estava a amadrugar, recolocou a vantagem nos leões.

Não havia muito a dizer sobre o que era a partida: era um dérbi aberto, o Sporting teve um contra-ataque perigoso para o 3-1, como o Benfica tivera um lance mal fizera o 1-1, e foi por haver tanto espaço que os encarnados marcaram o 2-2.

A jogada é muito boa: Florentino faz um passe no limite e a partir daí, quando Grimaldo armou o passe, percebeu-se que Ramos estava ali para bisar.

O golo mudou o resultado e, este sim, mudou também um pouco o encontro. Depois de tanto andar atrás, o Benfica assumiu o controlo. Teve a posse, obrigou o Sporting a recuar, mas faltou que Neres trouxesse a magia que tem ou que Rafa impusesse velocidade, que Enzo descobrisse alguém solto.

A questão é que do outro lado o Sporting uniu-se, fechou-se, uniu forças. Ugarte continuou a ir a todos os duelos, Chermiti teve o dérbi nas botas e atirou para fora e, assim, esta edição do dérbi tornou-se numa bela ode ao histórico de confrontos, mas cujas consequências práticas só se podem ver mais à frente, a começar por aquilo que sucede ainda neste 15 de janeiro de 2023, no Dragão.