Jürgen Klopp é hoje um dos mais carismáticos treinadores mundiais. Raphael Honigstein um jornalista e também autor de Das Reboot, livro que explica o renascimento do futebol alemão desde 1990, com o bater no fundo no Euro-2000, até à conquista do título mundial no Brasil, há quatro anos. O treinador é o protagonista de Bring the Noise: the Jürgen Klopp story (edição em inglês, setembro de 2017), que revisita vários episódios marcantes da sua carreira, embora não de forma cronológica.

Defesa tosco do Mainz, com um ou outro grande golo para contar mais tarde aos netos, mas discípulo interessado de Wolfgang Frank – um dos maiores revolucionários germânicos, que se inspirava em Arrigo Sacchi e que decidiu abdicar do líbero, imortalizado por herr kaiser Beckenbaeur, e apostar numa defesa à zona –, Kloppo bebeu do antigo mestre para levar, não sem vários percalços pelo caminho, o clube vizinho da Floresta Negra e sem grande historial até aí, à Bundesliga.

Perante as experiências falhadas com as apostas em Reinhard Saftig e Dietmar Constantini, os dirigentes do Mainz cedo perceberam que a aposta no pupilo de Frank não só iria recuperar as ideias táticas que maior sucesso tinham trazido ao clube como a equipa podia aspirar a voos maiores.

A ligação de Klopp com dirigentes, jogadores, clube e com o resto da cidade, a roleta de emoções de ver a subida fugir em vários momentos até alcançá-la por fim e depois descer outra vez, antes da mudança para Dortmund. Os títulos conquistados, com uma Yellow Wall em erupção, aproveitando a estagnação do Bayern, e a presença na final da Liga dos Campeões. O gegenpressing. O recomeçar em Anfield, as expetativas, as exigências. Dar sempre o máximo, pisar sempre o limite. Dando voz à família, aos amigos, ex-colegas, ex-jogadores que treinou e diretores que com ele se cruzaram no passado, Honigstein salta de episódio em episódio, sublinhando os defeitos e virtudes de um técnicos que rapidamente se tornou dos mais mediáticos, sobretudo a partir do momento em que fez os comentários televisivos, quando ainda no Mainz e na Bundesliga II, de jogos da Mannschaft no Campeonato do Mundo.

Quem já gosta de Kloppo irá certamente gostar ainda mais, e nem é necessário que receba das páginas deste livro qualquer tipo de endeusamento, porque não existe. Já quem não gosta colocará muito provavelmente essas diferenças em causa. É impossível ficar indiferente.

Há uma espécie de paradigma do jogo que diz que os clubes tendem a parecer-se com os seus treinadores por algum tempo. Raphael Honigstein dá-lhe todas as respostas quando se questiona por que com Klopp essa imagem permaneça para lá dos limites.