O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

MANUEL MADUREIRA, DIABLES NOIRES (REP. CONGO)

«Meus amigos,

Levo-vos desta vez numa viagem até aos confins de África. L'Afrique Noire ou, se preferirem, África Negra, que fica no interior do continente africano.

A principio, nada de anormal se vislumbrou quanto a questões alimentares porque eu estava em fase de preparação em Pointe Noire, instalado no Hotel Marocain, de cinco estrelas, e os jogadores a cerca de 7/8 quilómetros, numa espécie de centro de treino, que mais não passava do que uma antiga missão católica, idêntica às que conheci em tempos entre 1963 e 1976 em Angola, terra que me viu nascer e partir muito cedo para este mundo europeu.

Coisas insólitas de independências e políticas.

Sempre que pretendi ir visitar o centro, não detetei nenhuma disponibilidade no staff técnico nem nos dirigentes, o que me despertou muita curiosidade. Por isso, resolvi pedir um táxi no hotel e ir ao encontro do citado espaço, de surpresa.

As surpresas resultam sempre positivamente no objetivo estabelecido, deixando a nu as irregularidades de indisciplina, rigor e profissionalismo. Pergunto, como é possível ter uma equipa profissional, a subverter-se ao ABC racional, profissional e competitivo do Futebol Profissional.

Apenas vos digo, que em África tudo é criteriosamente possível. Afirmo-o sem escrúpulos e com a experiência vivida na primeira pessoa neste meu percurso de treinador de futebol, em Inglaterra, Tunísia, Argélia, Marrocos, Arábia Saudita e Républica do Congo em Brazzaville.

Desta feita, digo-vos apenas que vi numa das vezes que apareci no chamado centro de treino, uma caixa de carapau estar uma manhã e parte da tarde ao sol, sem qualquer tipo de cobertura, sem qualquer tipo de refrigeração, coberta de um vasto e variado enxame de mosquedo a uma temperatura superior a 40 graus.

Mais incrédulo fiquei, quando ao jantar vi ser servido carapau com manhoc, um prato típico do Congo, que é demasiado pesado e indigesto para um qualquer cidadão mais do que um vulgar mortal, quanto mais para um atleta de alta competição.

Naturalmente que eu não jantei com os jogadores e fiz disso menção ao responsável diretivo da comitiva, que me disse apenas, BIENVENU AU CONGO.

Por hoje fico por aqui.

Despeço-me com um abraço amigo.

Façam o favor de serem felizes onde e com quem quer que estejam.

Manuel Madureira»

Nota da redação: o nosso colunista Manuel Madureira foi contratado por um clube do Luxemburgo e é assim o novo treinador do FC Titus Lamadelaine. Desejamos-lhe as maiores felicidades para este novo passo na sua carreira.