A opção pelo bloco baixo é, hoje, um argumento forte (e muito válido!) para os treinadores de equipas menos cotadas trazerem pontos de estádio onde, até há bem pouco tempo, isso era pouco provável. Provou-o o Rio Ave em Alvalade, o Belenenses na Luz, o Nacional da Madeira em Vila do Conde....e muitos outros.

Chegamos à sétima jornada e verificamos que tem sido praticamente igual jogar na condição de visitante ou de visitado. Pelo menos é isso que mostram os números: 40% de vitórias caseiras contra 38% de visitantes. Um cenário de todo normal para a Liga Portuguesa.

O treinador do Nacional da Madeira, Manuel Machado, sabe bem o que é trabalhar em clubes de menor dimensão e, ao olhar para este admirável mundo novo, recorre à derrota do Benfica em Paris para explicar a opção de muitos treinadores.

«O conforto de jogar contra equipas que assumem mais o jogo cruza com o respeito que temos de ter pelo trabalho dos outros. O Benfica quis jogar no campo todo com o Paris Saint-Germain, uma equipa que apresenta um potencial financeiro que lhe permite atacar franjas de mercado que o Benfica não consegue, e acabou com um resultado pesado que até podia ter sido pior», analisou o técnico antes abordar a importância da estratégia.

Embora esteja instituído que jogar ao ataque é que é bonito, a realidade da maioria dos treinadores não o permite e são os resultados (pontos) que ditam as leis. O importante é os treinadores terem a noção do que dispõem para, depois, traçarem uma estratégia que vá de encontro à mão-de-obra disponível.

«O que se passou com o Benfica acontece, também, no plano interno. Quando as equipas com poucos meios financeiros, que se socorrem de jogadores menos cotados, partem para estratégias baixas ao nível defensivo eu compreendo, respeito e só tenho que encontrar ferramentas para poder desmontar», reforçou o técnico colocando o tónico nas equipas que têm maiores responsabilidades.
Perante este quadro, o antigo técnico de Académica, Moreirense, Vitória de Guimarães e Sporting de Braga acredita que o nivelamento das equipas também contribuiu para esta realidade.

«Isso resolver-se-ia se jogássemos contranatura. As equipas são muito iguais e quando jogam fora de casa estão muito confortáveis em posturas baixas e a jogar em contra-ataque. Em casa, por força daquilo que é o estatuto casa e o apoio dos adeptos, têm uma postura mais ousada e a situação inverte-se. Acabam por se dar mal porque não há potencial que se diferencie e que faça com que uma equipa, só porque em termos mentais quer ser mais comprida no campo, resolva o problema por aí mesmo. Às vezes jogando pelo inverso as coisas acabam por resultar melhor: jogar baixo em casa e ofensivo fora», rematou deixando pistas sobre o antídoto para inverter o cenário.