Boavista e Belenenses limitaram-se ao zero redondo, no fechar de cortinas da 20ª jornada da Liga 2006/07. Numa partida em que a razão se sobrepôs, invariavelmente, à emoção, ficou patente o respeito mútuo, a pouca disponibilidade para correr riscos. Pacheco desconfiou de Jesus, Jesus desconfiou ainda mais de Pacheco, e neste jogo de temores repartidos, acaba por parecer natural a igualdade no marcador, apesar do domínio territorial dos axadrezados, que não perdem há oito jogos.
Jaime Pacheco esgotou o capital de confiança em Roland Linz e relegou o avançado austríaco, que não marca desde a 14ª jornada, para o banco de suplentes. Fary foi a aposta inicial do técnico axadrezado, que teve de assistir ao encontro a partir da bancada devido à suspensão de 15 dias a que foi sujeito, na ressaca da eliminação do Boavista da Taça de Portugal, frente ao Beira Mar. Grzelak, que tinha inaugurado o marcador na deslocação a Coimbra, também iniciou o encontro no banco, por troca com Zé Manuel. No Belenenses, Marco Gonçalves defendeu a baliza, face à indisponibilidade de Costinha.
Nas asas de Zé Manuel
Zé Manuel viria a carregar o piano axadrezado durante grande parte do encontro, protagonizando o momento mais polémico da etapa inicial. Ao minuto 41, arrancou ao seu melhor estilo pelo flanco direito e, após toque de Nivaldo nas suas costas, caiu na área do Belenenses. Queda forçada ou não, a verdade é que o defesa brasileiro desequilibrou o extremo e, como tal, haveria lugar à marcação de um castigo máximo. Elmano Santos assim não entendeu.
Pelo meio, tempo para várias oportunidades de golo, sem que o registo elevado no capítulo dos remates tenha correspondência na qualidade do espectáculo. As cautelas de parte a parte, incentivadas por dois treinadores «matreiros», roubaram espaço a meio-campo para rasgos de criatividade. Sobraram os flancos, terreno fértil para iniciativas que redundaram num imenso nada, por falta de soluções credíveis em zona de finalização.
Quando o futebol não deveria ser o mais importante
Na etapa complementar, a toada do encontro acentuou-se. Um Boavista mandão, mas longe do Boavistão, e um Belenenses cada vez mais calculista, sem uma ponta de ambição para contrariar o ascendente territorial dos locais.
Por essa altura, a agitação alastrou-se para as bancadas do Bessa, onde um adepto sentiu-se mal e necessitou da intervenção do corpo médico. Longos minutos passaram com o mesmo a ser reanimado junto à linha lateral. Recorreu-se ao desfibrilador e, no meio desta angústia, vários adeptos lamentavam que Elmano Santos não tivesse interrompido o encontro. Porque, por vezes, o futebol não deveria ser, realmente, o mais importante.
Durante duas vintenas de minutos, grande parte dos olhares centraram-se naquela luta pela vida. A quarto-de-hora do final do encontro, o indivíduo foi retirado em maca, para continuar a ser assistido no hospital, mas viria a ser decretada a sua morte ainda no Estádio do Bessa.
No rectângulo de jogo, pouco mais que crescentes focos de pressão do Boavista, sem reflexos práticos. Perdurou o acerto defensivo comum, assim como o cansaço provocado pelos compromissos na Taça de Portugal, onde os azuis seguiram em frente e os axadrezados ficaram pelo caminho.