O Sindicato de Jogadores deu voz a Uchebo que está sem receber salários no Boavista desde abril. Uma situação que o jogador considera insustentável, uma vez que o clube também deixou de lhe pagar a renda e, há poucos dias, também lhe cortaram a eletricidade. Joaquim Evangelista fala em «práticas ilegais e abusivas» na tentativa de obrigar o jogador a aceitar um acordo que não lhe é favorável. O avançado, que tinha um salário de quinze mil euros por mês, avançou, entretanto, com uma queixa para a FIFA.

«Joguei três meses no Boavista. Cheguei a jogar lesionado, pediram-me para jogar e joguei, lutei pelo Boavista, não sei porque é que agora me tratam assim», contou o avançado nigeriano de 26 anos.

Uma história que, na verdade, já se arrasta desde a temporada passada quando a equipa técnica, na altura ainda liderada por Erwin Sanchez, comunicou a Uchebo e Uche Nwofor que não contava com eles para a nova temporada. «Em setembro deram-me um mês de salário e disseram-me para sair», conta o jogador que acabou por ficar. A partir daí a vida complicou-se para o nigeriano que foi impedido de treinar com o restante plantel.

A situação complicou-se em janeiro. Numa primeira fase, o Boavista insistiu na saída do jogador. Já perto do final do mercado, Uchebo encontrou uma solução para prosseguir a carreira, mas nessa altura fecharam-lhe a porta. «Tive uma proposta em janeiro, mas disseram-me que não. Eu, como gosto do Boavista e dos adeptos, esqueci tudo e decidi ficar, mas depois disseram-me outra vez que não contavam comigo. Pagaram-me os meses de outubro, novembro e dezembro e pediram-me para sair. Falei com o Fary e com o presidente Abel Braga, mas diziam-me sempre o mesmo», conta.

Mais uma vez, Uchebo, que tem contrato até ao final da presente época, não saiu. Fary ainda lhe disse que podia ficar se aceitasse baixar o salário, mas Uchebo recusou. «Fiquei confuso, tive medo. A partir daí não me deixaram treinar e não queriam que ninguém me visse no clube». Em abril o Boavista deixou-lhe de pagar. «Em agosto voltei a falar com a direção, precisava de dinheiro para comer, precisava de dinheiro para apoiar a minha família. Mas disseram-me que só me davam dinheiro se aceitasse a proposta», prosseguiu.

Ao fim de seis meses sem receber, Uchebo avançou com uma queixa na FIFA. O caso ganhou dimensão internacional a partir do momento em que o jogador filmou um vídeo, com o telemóvel, nas instalações do Boavista, no qual está a ser pressionado para abandonar as instalações. «Fiz o vídeo para minha própria segurança. Estavam a empurrar-me e a puxar-me», explicou. O caso ganhou dimensão internacional e o Sindicato de Jogadores avançou, não só para dar apoio a Uchebo, mas também para denunciar a pressão exercida pelo Boavista.

«É um alerta para todo o futebol português contra estas práticas que têm como objetivo forçar os jogadores a renovar ou a rescindir os respetivos contratos. Não pagam salários, metem os jogadores a treinar à parte, proíbem a entrada nas instalações do clube, deixam de pagar a renda. Há muito jogadores, a maioria até, acaba por aceitar os acordos. O problema é que muitas vezes esses mesmos acordos não são cumpridos. Foi o que aconteceu com Mari Martinez e Uche Nwofor. Assinaram acordos para rescindir e depois não receberam. Estes casos estão agora em tribunal», denuncia Evangelista.

Para o presidente do Sindicato de Jogadores restam dois caminhos para o Boavista. «O Boavista tem falado connosco, mas isso não chega. Agora é a altura de assumir compromissos. Ou apresenta uma solução que o jogador aceite ou espera que a FIFA os obrigue a pagar», referiu. O dirigente alertou ainda para o histórico do clube do Bessa nestas questões. «Esse mecanismo de fazer acordos e depois não os cumprir é inqualificável. Os jogadores prescindem de direitos e depois não recebem», acrescentou.

Entretanto, o Sindicato acionou o fundo de garantia salarial para dar apoio a Uchebo, além de lhe facultar apoio humano, «uma vez que o jogador está sozinho no Porto», e apoio jurídico. Uchebo, por seu lado, está disposto a ir todos os dias ao Bessa para treinar. «Já lhe disse que ele tem muita coragem, é destemido e corre riscos porque, às vezes, os adeptos não compreendem a situação. Vai ter que ter alguma reserva e não se expor tanto, aconselhou Evangelista.

O reprsentante dos jogadores revelou ainda que o Boavista não é caso único e que, brevemente, deverão ser denunciados casos similares ao de Uchebo. «Gestão desportiva não é isto. As épocas e janelas de mercado de transferência têm de ser bem planeadas. Mas o que mais incomoda o Sindicato é que isto é feito de forma calculada. Aproveito para dizer que há mais clubes que estão a fazer esta pressão junto de jogadores com quem querem rescindir e ainda não tornámos essas situações públicas, mas fica aqui o aviso, sabem bem quem são, arranjem soluções rápidas», referiu ainda.