Bock é um caso atípico do mundo do futebol. O maior goleador desta época da II Liga portuguesa, com 15 golos, nunca pisou os relvados do escalão principal. Aos 35 anos, o Freamunde deu-lhe a oportunidade de demonstrar que quem sabe nunca esquece e colheu os frutos: o craque marcou quase metade dos golos da equipa.

Benfiquista de coração, foi no F.C. Porto que nasceu para o futebol. Nos dragões cedo revelou um talento nato para alvejar as balizas contrárias e, por isso, continua a figurar no livro dos azuis e brancos como o melhor marcador se sempre das categorias jovens. Como sénior, orgulha-se de ser dos poucos a colar a bola na maioria das redes da II Liga. Prémios atrás de prémios numa carreira discreta que podia ser memorável.

«A I Liga é a maior mágoa da minha carreira»

O atacante português foi o melhor marcador do segundo escalão, feito que já tinha alcançado ao serviço do Vizela. «É um orgulho muito grande. Sinto-me realizado e a crescer como homem e jogador. Aos 35 anos estou a passar um dos momentos mais felizes da minha vida. Sou um apaixonado pela profissão», disse Bock, em conversa com o MaisFutebol.

Bock não tem uma justificação para nunca ter jogado na I Liga. «Não tenho resposta. É a maior mágoa da minha carreira. Nunca tive empresário, mas sempre tive muitos convites de clubes portugueses. Há dois anos tive duas abordagens de clubes da I Liga e foi então que pensei que ia concretizar o meu sonho, mas não foi possível», lamentou.

Aos 35 anos o atleta não perdeu a ambição. Tem três propostas de clubes do segundo escalão que almejam a subida de divisão, mas é no Freamunde que queria singrar. «O meu sonho era subir com o Freamunde. Sei que é difícil, porque os objectivos são modestos. Eu amo este clube, mas há ciclos que terminam. Não sei se vou continuar por lá, tenho três propostas aliciantes de clubes que apontam para a subida na próxima época. Vou estudar a melhor solução para mim», revelou.

Num momento de descontracção, o goleador explicou a origem do nome. «Não tem nada a ver com a cerveja. Eu nem bebo álcool. O meu pai, que jogou nos escalões inferiores do futebol, tinha medo de saltar um aparelho de educação física chamado bock e puseram-lhe a alcunha. Eu como sempre segui as pisadas dele, quando comecei a jogar apelidaram-me de Bock Junior. Acabou por colar e hoje em dia já não me conhecem por outro nome», contou.

«Estou no auge das minhas capacidades»

O futebolista de 35 anos não esquece a formação no F.C. Porto, algo que vai guardar para o resto da vida. «É uma sensação diferente porque éramos tratados como craques. Gosto do F.C. Porto, vejo todos os jogos, mas sinto uma grande mágoa por nunca me terem apoiado. Sendo muito honesto, posso dizer que havia jogadores que não tinham metade do meu talento, mas o clube deu-lhes a mão e acabaram por vencer na I Liga.»

«Fico contente pelo sucesso deles. Cresci na Ribeira e dou-me muito bem com toda a gente do clube. Arrepio-me sempre que entro no Estádio do Dragão e imagino que podia ter uma carreira de sucesso ao serviço do clube, mas em Portugal preferem os jogadores sul-americanos e não apostam nos portugueses. Fiz muitos golos na II Liga e posso afirmar que na I Liga fazia o mesmo, não deixava ninguém ficar mal», disparou.

Apesar dos 35 anos, Bock não pensa em terminar a carreira. «Não penso acabar tão cedo. Nunca vou andar a arrastar-me pelos relvados. Para ser muito honesto, sinto-me no auge das minhas capacidades como homem e jogador. Estou muito feliz dentro de campo e estou pronto a dar tudo pela equipa», rematou.