Nesta sexta-feira termina o prazo para a votação na Bola de Ouro e restantes prémios anuais da FIFA. E se isto é novidade para si, então pode já desmontar uma das várias ideias feitas que se acumulam sobre o processo – a de que o desempenho de Cristiano Ronaldo, Ribéry ou Ibrahimovic nos play-off vai ser determinante para o resultado da eleição: não vai. Eis o guia das perguntas frequentes sobre os prémios individuais mais importantes do ano.

1. O prémio é da FIFA ou da revista France Football?
É de ambos, na verdade. Resulta da fusão, em 2010, da Bola de Ouro, atribuída pela France Football desde 1956 - com escolhas de jornalistas de toda a Europa, um por país - e do World Player of the Year, que a FIFA passou a atribuir em 1991, com votos de selecionadores e jogadores de todo o Mundo. A coincidência de datas prejudicava as duas organizações e a fusão manteve o troféu inicial da France Football, juntando os regimes de votos. A partir de 2001, a FIFA passou a escolher também a melhor jogadora do ano, prémio que se mantém no regime atual. Em 2010, passou a haver prémio anual para melhor treinador mundial, em futebol masculino e feminino.

2. Quais são os prazos da votação?
As federações e jornalistas com direito a voto (um por cada federação) recebem os formulários para votar assim que a lista final de candidatos é divulgada. Neste ano, isso aconteceu de 28 para 29 de outubro. Os votos têm de ser enviados para a FIFA até 15 de novembro.

3. Quem vota?
Cada país filiado na FIFA tem direito a três votos: do selecionador, do capitão e de um jornalista especializado. Na última edição votaram representantes de 170 países na eleição masculina, para um total de 510 votos. A fórmula repete-se para os prémios femininos, com selecionador(a), capitã e (outro) representante dos media. Os jornalistas que já votavam na Bola de Ouro, quando era organizada apenas pela France Football, mantiveram esse direito. Desde a fusão com o prémio da FIFA, em 2010, os restantes países, que não tinham jornalistas na votação, passaram a ter um representante dos media, escolhido pela respetiva federação ou associação profissional, consoante os casos.

4. Os votos têm peso idêntico?
Sim: as votações de técnicos, capitães de equipa e jornalistas correspondem, cada, a 33 por cento do total. Não há diferenças de país para país.

5. Quanto vale cada voto?
Cada votante indica três nomes da lista, por ordem de preferência. A primeira escolha recebe 5 pontos, a segunda, 3 e a terceira, um ponto.

6. Quem escolhe a lista inicial de candidatos?
Os 23 finalistas ao prémio masculino são escolhidos em conjunto pelo Comité de Futebol da FIFA e por um grupo de especialistas da revista France Football. As listas para dez treinadores de futebol masculino e dez de futebol feminino são feitas em comum por estas entidades e pelo Comité de Futebol Feminino da FIFA, que tem ainda a responsabilidade, em parceria com a France Football, de escolhar a lista de candidatas (dez, este ano) ao prémio de melhor jogadora.

7. Quais são os critérios para a eleição?
Citando a FIFA, o voto deve ter em conta «o desempenho desportivo e o comportamento dentro e fora do relvado, de 1 de janeiro até ao presente», isto é, ao momento do voto. Apesar de muita desinformação em contrário, a circular da FIFA que define as diretivas de voto não faz qualquer menção a títulos conquistados, golos ou número de jogos.

8. Como é o procedimento formal?
Até ao ano passado os votos eram enviados por mail, com os da imprensa a serem sustentados por uma pequena justificação escrita para cada nome. A partir de 2013, o processo mecanizou-se: o site da FIFA gera um link acessível aos votantes, com um formulário que permite selecionar os jogadores em causa e a respetiva ordem. Depois de concluída a votação, a FIFA vai divulgar uma «shortlist» com os cinco nomes mais votados, antes do anúncio final dos vencedores, a 13 de janeiro, em Zurique.


Exemplo de um boletim de voto para a eleição feminina

9. É possível votar nos elementos da própria Selecção?
Sim. O regulamento impede apenas que jogadores ou treinadores nomeados votem em si próprios. No caso português, Paulo Bento pode votar em Cristiano Ronaldo e/ou José Mourinho (tem-no feito) mas o capitão português não pode votar no seu próprio nome – poderia votar em outro português, se estivesse nomeado. Há um ano, Bruno Alves foi o capitão (Ronaldo não estava nessa convocatória) e votou no seu colega de seleção. Os jornalistas de cada país não têm impedimentos deste tipo.

10. Há controlo externo sobre a votação?
Sim: a FIFA e a France Football divulgam publicamente os votos de técnicos, capitães e jornalistas após o anúncio dos prémios. E atribuem à empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers a responsabilidade de auditar os resultados.

11. Quantos prémios atribui a FIFA?
Esta votação destina-se apenas a quatro prémios (melhor jogador e treinador, em masculinos e femininos). Em paralelo, a FIFA promove até 9 de dezembro a votação para o golo do ano (prémio Puskas), que é feita pelos utilizadores do site. Há também a eleição da equipa do ano, feita em parceria com a FIFPro, que conta com os votos de 50 mil jogadores profissionais. Depois, há prémios de fair-play e distinções de honra, da iniciativa do presidente da FIFA.

«FIFA foi atrás do prestígio»

O representante português dos «media» na votação para a Bola de Ouro é, desde meados da década de 90, o jornalista Joaquim Rita, comentador de futebol na SIC Notícias e na Antena Um. É da opinião que a fusão de prémios, decidida em 2010, veio beneficiar a FIFA: «A FIFA foi atrás do prestígio da Bola de Ouro. A verdade é que, por mais esforço que fizesse com o World Player of the Year, o prémio que os jogadores mais queriam ganhar era o da France Football. Agora, o prémio mantém as características mas tem, talvez, uma dimensão mais universal», resume.

A pergunta é lógica: essa dimensão mais alargada torna a eleição mais sujeita a lóbis, pressões e interferências? Rita responde com a sua própria experiência: «Quem me conhece sabe que não sou influenciável e sigo as minhas convicções. Não sofro pressões. Em todos estes anos, o mais que acontece são telefonemas de colegas de votação, a apalpar terreno quanto a tendências e sensibilidades, nada para além disso», diz.

Isto não invalida que Joaquim Rita assuma um evidente desagrado com o incidente protagonizado por Blatter, em relação a Messi e Ronaldo, no dia em que foi divulgada a lista de 23 finalistas: «Admito que em algumas federações de menor expressão, mais dependentes de favores, a patetice de Blatter possa ter alguma influência. Pode haver quem se sinta tentado a votar em função de uma preferência manifestada pela FIFA, e isso pode ter algum peso na eleição. Já não acredito é que selecionadores como Del Bosque ou Paulo Bento mudem o voto em função do que diz o presidente», conclui.