Jonas é incrível.

Daqueles incríveis com tracinhos

In-crí-vel!

Melhor jogador da Liga desde que começou a pisá-la, mesmo com uma ou outra imperfeição, porque não é divino e muito menos extraterrestre.

Até nos momentos maus, ou menos bons, é isso tudo. Hifenizado. Com tracinhos.

Talvez o livre seja mais ao jeito de Grimaldo, passem seis ou sete minutos dos 90, e já tenha falhado um penalty. Talvez esse assumir da responsabilidade, com a equipa praticamente derrotada, ao pontapé para o ar, sem nexo e sem processo, perca ainda um pouco mais do sentido quando é colocada mais para a direita.

A bola pede

Algum esquerdino por aí?  

Há Grimaldo, há Zivkovic, já não há Cervi.

Mesmo um Jonas deste planeta marcaria dali. Uma falta desnecessária, camisolas azuis a esgrimir protestos pelo tempo que ainda lhes falta, mas não faz falta. O árbitro mantém o nariz empinado. Nada a fazer.

Estão Grimaldo e Zivkovic, mas Jonas assume. Aos 33 anos e depois de um penálti que não enganou ninguém, que lhe caiu com o peso todo em cima dos ombros, não deixa para outros o que pode ele fazer. Tem de ser. Porque Grimaldo anda sem pontaria, e Zivkovic só bate nos treinos. Lá saberão, só eles é que vêem.

Mais descaído para a direita. Frontal, mas descaído, mais a jeito de

Algum canhoto por aí?

A exibição: cinzenta. Passes falhados, dificuldade em ter a bola, dificuldade em fazer jogar, em ter espaço para finalizar. Por vezes, a falta de discernimento de um toque a mais num Benfica sem vic. Sem Krovinovic por perto, um miúdo a tentar não desiludir no seu lugar. O penalty falhado, que, muito provavelmente, chegaria para vencer. A bola sem força, denunciada.

Resolveria tanta coisa, depois de tanto que não foi feito. Por ele, pela equipa.

Agora, mais atrás. Mais para a direita. A força que não teve de mais perto, numa bola que olha de cima para baixo para a barreira e foge do guarda-redes. Que se estica. Que ainda lhe toca.

Algum canho... Ah, também está bem!

In-crí-vel. Jonas quase não festeja. Vale um ponto. A cavalo dado não se olha o dente, e todos os mais provérbios que de repente podem fazer sentido.

Jonas é quem dá a grandeza ao Benfica. Grande parte deste Benfica, talvez.

Pode não chegar, e talvez não chegue mesmo. Um título não se faz uma soma simples

Classe mais inteligência igual a y

e obriga a multiplicar por 11. Ou no mínimo por mais uns quantos.

Um Jonas que talvez não esperasse tanto de si mesmo continua a dar ao Benfica as maiores manifestações de grandeza.

A bola passa a barreira, gira rápida sobre o seu eixo. O som do deslizar nas redes esticadas, com uma convicção tremenda

Jonas é grande, e faz o Benfica maior.  

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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de crónica, publicado de quinze em quinze dias na MFTOTAL. O autor usa grafia pré-acordo ortográfico.