Há de novo um predador à solta. A minha espécie de vampiro. Mora numa caverna no Camp Nou, e não se desmorona em pó debaixo da luz do dia. Também convive bem com a prata, nem que seja a que pagaram por ele. Evoluiu. Desde Bram Stoker que não se sentia tão forte. Tão perfeito. Tão rápido. Tão letal que Van Helsing diria

O inimigo está a ganhar força!

Do you not think that there are things which you cannot understand, and yet which are; that some people see things that others cannot? But there are things old and new which must not be contemplate by men's eyes, because they know-or think they know-some things which other men have told them. 

Está mais forte. A ficar mais forte. Cai em cima dos defesas rivais. Um após outro. Deixa um rasto de destruição. É apenas mais um monstro. Um monstro entre monstros. Como se fizesse parte de uma Liga de Maldade unida contra os X-Men, o Quarteto Fantástico ou quaisquer outros super-heróis, vestidos com capas cheias de estilo e capazes de salvar sempre o mundo. No último segundo. A um suspiro do Apocalipse.

O Jorge é que sempre o topou, à distância

Sou um tipo de morcego
Que é completamente cego
Embora, às vezes, seja fã do Fritz Lang

Sou uma espécie de vampiro
E quando sobre ti me atiro
É para saborear um pouco do teu sangue
Só para beber gota a gota o teu sangue


Moda, há muito tempo. E está na moda dizer-se que está trending.

Stoker, Coppola, passando por Amanheceres, Luas Novas e Underworlds. Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon em The Hunger. Carpenter, Sangue Fresco e Dracula Untold. Afinal, havia algo que tinha ficado por contar da história de Vlad, o empalador. O Vlad-que-tinha-coração. E fez tudo por amor.  Trending, lá está. Anos a fio, décadas a fio.

Por isso, não percebo. Não é fácil entender. Neste mundo em que tudo pode rodopiar à volta de uma #hashtag, que o último dos nosferatu tenha sido condenado por se atirar a um carniceiro. De boca aberta e dentes afiados. Debaixo do calor abrasador do Brasil. Sem se desmoronar em pó.

Afinal, era novidade? Era? Parece que ninguém tinha percebido. Notado. Ninguém tinha mesmo reparado nos dentes arranjados, mas ainda proeminentes? O jeito atarracado de correr. Não tinham sentido ainda o seu abraço? Aparecia e desaparecia no breu, entre golos mágicos e adversários no tapete?

Reparem. Ivanovic transformou-se. Ele também já morde por terras de Sua Majestade. O servo sérvio serve o Mestre. É uma doença. A extinção da humanidade

Master, Master! You promised me eternal life!


Não entendo. Não compreendo as críticas, a suspensão, a estaca afiada para o coração. Não era trending?

Num mundo de entradas assassinas e pernas partidas, de cabeçadas e cotoveladas grosseiras, uma mordidela não é para mim o tópico mais entusiasmante. Talvez me tenha enganado na hashtag. É só boa para os filmes!
 
Chamaram-lhe pistolero. Conejo. Sir Gol. Lucho. El depredador. Tudo isto e mais alguma coisa. O Predador sim, essa faz sentido. Está a ganhar força no exílio. Sente-se cada vez mais forte. Morde cada vez com mais força. Um monstro. Mais um.

Ainda teremos algum tempo antes que Suárez e Ivanovic (e McCarthy) transformem todos os futebolistas não contaminados em iguais. Numa avalanche de futebolistas-vampiros, ao jeito de John Carpenter. Com óculos escuros e tudo.

Infelizmente, apenas infelizmente, o talento não é carregado pelos glóbulos vermelhos, já a abarrotar de oxigénio. Se assim fosse, seria cura e não doença. Mesmo com a humanidade em risco.

Ele, o Mestre, ainda é único
 
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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA»    é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias. Pode segui-lo no    FACEBOOK       e no    TWITTER   . O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico.
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