Quinze anos depois, o Borussia Dortmund volta a estar entre as oito melhores equipas da Europa. E consegue-o depois de uma vitória clara sobre o Shakhtar Donetsk, comprovando que é uma equipa a ter seriamente em conta na Liga dos Campeões.
«Ando a dizer desde o início que o Dortmund é candidato», disse José Mourinho em Old Trafford. Palavras de um técnico que na fase de grupos ficou atrás da equipa alemã, à qual não conseguiu ganhar (empate em Madrid e derrota em Dortmund).
A «febre amarela» parece estar de volta, recompensando os fiéis adeptos do sofrimento do início do século, quando a situação financeira agravou-se a ponto de colocar o futuro do clube em causa. Até o rival Bayern emprestou dinheiro!
Há cinco anos as camisolas amarelas andavam a fugir à despromoção. Agora falamos do campeão alemão e uma das equipas mais entusiasmantes do velho continente. E sem esquecer o papel do presidente Reinhard Rauball é justo olhar para Jürgen Klopp como o estratega desta transformação.
Foi uma aposta de risco que acabou por dar frutos, e bem vistosos. Klopp foi o técnico que promoveu o Mainz à Bundesliga em 2003/04, mas também aquele que não evitou a descida em 2006/07 e que falhou o regresso ao principal escalão no ano seguinte.
Saiu nessa altura, com pouco crédito, mas o Borussia Dortmund entendeu ainda assim avançar para a contratação. Em 2008/09 ficou à porta da Europa (6º lugar), mas no ano seguinte melhorou o registo e conseguiu a presença na Liga Europa (5º lugar). Estava à vista a mudança, confirmada depois com dois títulos nacionais consecutivos (2010/11 e 2011/12).
Vitalidade e futebol a todo o gás
Klopp percebeu que era preciso construir uma equipa irreverente, à sua imagem. Basta olhar para Lewandowski, Hümmels, Reus ou Götze para perceber que há sangue novo. «Quando recuperaram o Dortmund perceberam que era preciso vitalidade. E foram buscar um treinador assim, que aposta num futebol vivo, que se diverte, que se ri mesmo quando desce de divisão», disse o técnico em entrevista recente ao «El País».
«Se temos 80 mil adeptos no estádio e o futebol é aborrecido, uma das partes vai ter de procurar um novo estádio: ou os adeptos ou a equipa. Algumas pessoas fazem 800 quilómetros. Temos de jogar a todo o gás. É isso que lhe chamamos, futebol a todo o gás. Temos de transbordar vitalidade. Preferimos atirar cinco vezes aos ferros do que ficar quatro vezes sem rematar. Era melhor perder. Foi assim no início», recordou.
O Borussia atual entende que jogar bem é o caminho certo para a vitória, seja ele o mais curto ou não. O técnico percebeu as mudanças no futebol alemão. «Os clubes passaram a ter centros de alto rendimento e agora temos uma quantidade incrível de jovens talentosos. As coisas mudaram tanto que agora nos falta jogo aéreo. Na seleção não há um único cabeceador», disse Klopp.
Há quem diga que os jogadores têm medo de Klopp. O técnico diz que é da mania de cerrar os dentes, algo que faz até quando vê um bebé. «Os jogadores são meus amigos mas eu não sou amigo deles. Isso não funciona», defende.
Mas a verdade é que tem um ar «cool», que encaixa na equipa. E um discurso idêntico. «Messi é o melhor do mundo, mas tem de haver vida noutro planeta. Ou ele é demasiado bom ou nós somos demasiado maus para ele. Mas a mim não interessa quem é o melhor, mas quem tira o melhor do potencial. O que me agrada é ver o Michu do Swansea. Ninguém o conhecia. Todos conhecem o melhor. Del Bosque é um super treinador, mas tem uma equipa extraordinária. Gostava de o ver no Osasuna. Eu sou o treinador do ano na Alemanha, mas o que o Christian Streich faz no Friburgo é incrível», afirmou.
Esta irreverência passa do banco para o relvado. Na edição anterior da Liga dos Campeões o Borussia pagou esse preço, acusou a juventude. Mas aprendeu a lição, sem abdicar da sua filosofia. Desta vez não desiludiu. Tudo o que vier é bónus.