É verão, está sol, há gente na praia e dizem os jornais na sua imensa sabedoria que esta não é boa altura para explorar assuntos sérios.

É a silly-season, argumentam.

Eu discordo. Acho que quando há um tema importante para questionar, se deve fazê-lo: independentemente do mês do calendário. Ora o assunto que me traz hoje aqui, está bom de ver, é sério e tem um nome.

Faisal.

Quando Moisés recebeu os dez mandamentos e leu na alínea três que não deve usar-se o nome de Deus em vão, estava certamente a pensar em Faisal.

Faisal, recorde-se, convocou um dia uma conferência de imprensa para anunciar que se tinha convertido ao islamismo.

Por menos do que isso, Norma Jean renunciou ao nome de batismo: e hoje o mundo só a recorda por ter sido a criança que habitou o corpo de Marilyn Monroe.

Faisal, por outro lado, converteu-se ao islamismo. Recebeu um nome, e o país insiste em chamar-lhe Abel Xavier.

O nome que Deus lhe deu foi portanto em vão.

Cassius Clay, por exemplo, converteu-se ao islamismo e tornou-se a memória infantil do maior lutador de boxe de todos os tempos. Quando a lenda viva acendeu a tocha olímpica em Atlanta em 1996 o mundo não viu ali Cassius Clay: viu Mohamed Ali.

Portugal, pequenino e conservador, olha para Faisal e só vê Abel Xavier.

O próprio Cat Stevens, e reparem que isto não é bem um nome, é uma marca, esteve 28 anos sem lançar um álbum de originais e quando o fez já era Issuf Islam.

É a diferença.

É nestas alturas que assume maior gravidade não haver em Portugal uma Alta Autoridade para a Segurança Onomástica. Faz falta, e não é de hoje: faz pelo menos falta desde que Yannick Djaló batizou a filha mais velha.

Uma autoridade que estabeleça um critério de uniformidade: se Adolfo Rocha é Miguel Torga e Maria de Sousa é Ágata, por que raio Abel Xavier não pode ser Faisal?

Está mal.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol. Siga-o no twitter.