Sobre o trabalho de Frederico Varandas já escrevi noutra ocasião e mantenho exatamente tudo o que disse: há demasiados erros que se repetem e que refletem um mau planeamento da época.

A maior parte da culpa pelo mau momento do Sporting é dele, portanto.

Ora por isso não me surpreenderia por aí além que os sportinguistas estivessem zangados e aproveitassem cada ocasião para contestar o presidente. Afinal de contas a indignação faz sentido.

No entanto, e quando olho para os apupos, para as esperas, para os pedidos de demissão, não consigo deixar de pensar que infelizmente para o Sporting nada daquilo faz sentido.

Porque não é genuíno.

Mas vamos por partes. Antes de mais é necessário dizer que, neste momento, existem três grupos dentro do Sporting: os Brunistas, os indefetíveis da claque e os outros.

Os Brunistas estão contra Frederico Varandas como estariam contra qualquer outro presidente: para eles devia ser Bruno de Carvalho a ocupar a cadeira do poder. É uma opinião legítima.

Os outros são todos aqueles que não são Brunistas nem indefetíveis da claque, e verdadeiramente ainda não se percebeu qual é a opinião deles. É verdade que assobiam e mostram lenços brancos no final dos jogos em que o Sporting não ganha, mas também assobiam as claques quando estas começam a pedir a demissão do presidente aos cinco minutos de um jogo.

Os outros são, no fundo, pessoas que não querem necessariamente ver Bruno de Carvalho de volta nem Frederico Varandas fora do clube. Querem, isso sim, ver o Sporting a ganhar.

Os indefetíveis da claque, por fim, são aqueles jovens que tentam invadir a garagem, que gritam mais alto, que pedem a demissão da direção o jogo todo, que insultam o presidente à chegada ao estádio. Podiam fazê-lo em defesa do Sporting, e aí teriam todo o fundamento, mas a verdade é que não é bem isso: os indefetíveis da claque têm nesta altura uma agenda própria.

Desde que Frederico Varandas cortou nos apoios às claques, tornou-se um homem a afastar por estas. O presidente, recorde-se, acabou com os convites, impôs prazos para pagamento dos bilhetes e proibiu as viagens com a equipa aos líderes dos grupos organizados.

Acabou, no fundo, com várias mordomias instaladas e dadas como direitos adquiridos.

Por isso tornou-se persona non grata. Fica sempre a sensação que, mais do que defender o Sporting, os indefetíveis das claques querem defender a posição deles.

Eu, que nunca percebi bem para que existem as claques, assusto-me com tudo isto: é verdadeiramente aterrador o poder que foi dado a grupos de adeptos violentos.

Dizem que apoiam e dão cor ao jogo, o que me remete para Inglaterra, que acabou com as claques dentro dos estádios e não tem propriamente um ambiente fúnebre nas bancadas.

Hoje em dia, em Portugal, os grupos organizados de adeptos têm muitas vezes os clubes reféns: adquiriram um poder que se torna complicado afastá-los e devolvê-los ao seu lugar.

No Sporting houve alguém que tentou impor-lhes limites e a resposta está à vista: uma mobilização completa para a contestação, que cria a ideia de que todo o clube está contra o presidente.

E a verdade é que se estivesse, seria legítimo: o trabalho de Varandas tem dado azo à revolta. Mas assim, não. Assobiar a equipa no início do jogo, não. Com uma agenda própria, definitivamente não.

Assim não nos peçam para levar a contestação muito a sério.

«Box-to-box» é um artigo de opinião de Sérgio Pereira, subdiretor do Maisfutebol, que escreve neste espaço às terças-feiras de quinze em quinze dias