O coração humano vicia-se na mudança. Em novos começos, em revoluções, em novidades. É sempre um entusiasmo. Uma agitação, um desassossego.

É tão fácil ser rebelde.

É cómodo ser um revolucionário: embarcar numa mudança, sentir a palma da mão a ficar húmida, o peito a bater forte, a cabeça a andar à roda de tanta euforia.

A mudança é viciante, lá está.

É mais fácil partir do que ficar, é mais fácil inventar do que fazer, é mais fácil escrever do que ler. É mais fácil dar o primeiro passo do que fazer uma caminhada. A novidade empurra-nos no início. Depois disso ficamos entregues à nossa força.

A partir daqui é fácil entender por que razão é que os jogadores estão sempre a querer mudar de clube. Pelo dinheiro, claro que sim – ninguém muda para pior –, mas ninguém me tira da cabeça que é por mais do que isso: é sobretudo pela agitação de um novo começo. O princípio de algo novo pode ser inebriante.

Por isso, insisto, é mais fácil mudar do que ficar sete anos no mesmo clube, por exemplo. É mais fácil querer um novo começo, desejar uma nova aventura, ambicionar ser outra vez notícia.

Uma transferência traz tudo: dinheiro, fama, entusiasmo.

Ficar num clube não é apenas monótono: é uma exigência de força interior. É preciso ser duro, firme e resistente para abdicar do fervor de um recomeço.

Foi isso que os adeptos do PAOK aplaudiram no domingo, quando Vieirinha entrou em campo para ser ovacionado: a força de um resistente. A coragem de um jogador que escolheu ficar para já seis, mas provavelmente, no futuro, sete, oito ou nove anos, num mesmo clube, com tudo o que isso tem de luta contra a emoção de uma mudança.

Os adeptos precisam de heróis: precisam de jogadores que se dediquem a uma causa, que defendam uma cor, que partilhem com eles a paixão por um clube.

Não pedem muito, no fundo: apenas devoção.

Infelizmente para os jogadores não é fácil ser herói. É mais simples cair na tentação de uma mudança. Por isso é tão raro encontrar ídolos assim.

Parabéns, Vieirinha.

«Box-to-box» é um artigo de opinião de Sérgio Pereira, subdiretor do Maisfutebol, que escreve neste espaço às terças-feiras de quinze em quinze dias