O Benfica gosta de estar entre a espada e a parede.

Provavelmente cansado do tédio que o discurso de Rui Vitória significava, a formação encarnada encheu-se de adrenalina para viver a vida no fio da navalha: ali entre a felicidade e o fatalismo.

Bruno Lage trouxe para o clube a eletricidade que faltava para encher o plantel de energia e ardor: para querer viver cada segundo como se fosse o último da vida... ou da temporada, vá.

Que outra explicação pode existir para o Benfica ter falhado pela primeira vez no campeonato logo agora, que não precisava urgentemente de ganhar?

Ou seja, naquele primeiro jogo que não era uma final na Liga, a formação encarnada deixou-se empatar, perdeu dois pontos e voltou ao ponto onde estava há uma semana: a precisar urgentemente de vencer todos os encontros.

Os miúdos de Bruno Lage, provavelmente ainda consumidos por aquela urgência da adolescência, não souberam segurar uma vantagem de dois pontos, que trazia arrastada uma mão cheia de quietude e paz. Uma mão cheia de sossego, que para um miúdo de dezanove anos não é só uma mão cheia de sossego: é um aborrecimento de morte.

Jogar com dois pontos de avanço, para este Benfica, é mais ou menos como estar na praia a ler a autobiografia de Cavaco Silva quando se podia estar no quarto a jogar Fortnite.

Não tem emoção, portanto.

O que, por um certo prisma, até faz sentido: ninguém merece ler a autobiografia de Cavaco Silva na praia. Sobretudo quando se tem dezanove anos e uma consola de gaming em casa (com uma daquelas cadeiras que se vendem na Fnac a imitar um banco de Fórmula 1 e tudo).

Por isso, lá está, este Benfica gosta de estar entre a espada e a parede.

A emoção para os miúdos do Benfica está mais ou menos como um célebre champô para Cristiano Ronaldo: fortalece o cabelo contra a caspa, a comichão e a oleosidade. O que, bem vistas as coisas, é o melhor que se leva desta vida: um cabelo forte e limpo de impurezas.

A boa notícia para o Benfica, e para os jovens jogadores encarnados, é que emoção não lhe vai faltar a partir de agora. A equipa está novamente proibida de perder pontos, numa caminhada que começa em igualdade pontual com o FC Porto.

A partir de agora, quem perder pontos arrisca-se a perder o título. O que enche o campeonato de alvoroço e promete fazer tremer tanto cada jogo que se vai sentir um pequeno abalo.

O Benfica não tem razões, portanto, para não estar feliz.

«Box-to-box» é um espaço de opinião do subdiretor Sérgio Pereira, que escreve neste espaço às terças-feiras de quinze em quinze dias