O sucesso de Jorge Jesus é inebriante.

E é inebriante sobretudo por uma razão: porque acontece no Brasil. O treinador poderia ter exatamente o mesmo sucesso em Espanha, na Alemanha ou no Japão que não era a mesma coisa.

O sucesso de Jorge Jesus no Brasil não é bem o sucesso de Jorge Jesus. É o nosso sucesso. De todos nós. Por isso, lá está, andamos todos aqui um bocadinho bêbados de felicidade.

Quando Jorge Jesus entra em campo, entramos todos. Quando Jorge Jesus joga, jogamos todos. Quando Jorge Jesus ganha, ganhamos todos, e quando Jorge Jesus perde, perdemos todos.

No fundo milhares de portugueses não ficam acordados até à uma da manhã para ver um Flamengo-Avaí: ficam-no para jogar um Flamengo-Avaí. Ou um Flamengo-Ceará. Ou outro qualquer jogo do Flamengo que há um ano seria impensável e irrazoável manter-nos acordados.

Queremos a todo o custo que o treinador tenha sucesso. Por isso sofremos, suamos, ficamos inquietos. E consumimos avidamente tudo o que tenha a ver com ele.

Quem anda neste meio sabe que o êxito de audiências de Jorge Jesus só tem paralelo em Cristiano Ronaldo ou nos melhores anos de José Mourinho.

Porquê? Porque o sucesso de Jorge Jesus não é só dele, lá está. É nosso. É de Portugal.

O sucesso de Jorge Jesus é um ato de justiça. Finalmente sentimos que fica vingado aquele complexo de superioridade que os brasileiros sempre tiveram em relação a Portugal.

Fica vingado o senhor António, que emigrou nos anos 60 para abrir uma padaria, e fica vingado o senhor Manuel, que foi trabalhar no duro e levou com um país inteiro a rir-se do bigode dele.

Fica vingado, no fundo, um país que é muito mais cosmopolita e elitista do que o preconceito dos brasileiros convencionou pensar.

De repente, um tuga, saído aqui da terrinha, que é incapaz de conjugar corretamente um verbo e não acerta um complemento, que troca o significado das palavras e não respeita uma conjugação, está a dar uma tareia aos brasileiros naquilo que eles alegadamente eram melhores: no futebol.

Um tuga, como eu ou o leitor, está a ensinar-lhes que ficaram presos em 1990, que já ninguém joga com dois trincos de pernas grossas, nem defende as bolas paradas em marcações individuais.

Que orgulho.

Que bonito que é Portugal. Que país encantador. Cheio de portugueses a falar português. Que fenómeno ternurento. É um arrebatamento, um fascínio, um caso de amor à primeira vista. É fácil amar Portugal e difícil explicar este amor: como todos os amores, não têm explicação. Ama-se e ponto final. Portugal é adorável, fascinante e épico. É um país cheio de histórias e heroísmos. É uma permanente epopeia à espera de ser feliz.

Obrigado, Jorge Jesus, por nos encher assim o ego.

Louvado seja o seu nome.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, diretor-executivo do Maisfutebol, que escreve aqui às quartas-feiras de quinze em quinze dias