Por muito que nos custe, há bordões que só se usam no masculino. Ninguém diz «vê se cresces» a uma senhora. Ninguém grita «és uma menina» ou «torna-te uma mulher, pá».

Porquê? Porque as mulheres não precisam.

Aos doze anos uma menina «já é uma mulherzinha». Pensa antes de agir. Não falta às aulas para jogar FIFA, nem se atrasa para ver o Dragon Ball. Vai às aulas todas. Sublinha a matéria com canetas de cores diferentes e tira apontamentos. Prepara enfim o futuro.

Um homem não: um homem porta-se mal. Não encara a vida nem aos doze, nem aos trinta anos. Vai encarando conforme pode: nos intervalos das faltas injustificadas.

Mais tarde ou mais cedo vai fugir às responsabilidades.

Por isso é sempre tratado como uma criança: alguém a quem devemos dar ordens, dar ralhetes, dar palmadinhas nas costas e sobretudo dar um desconto.

Os homens não têm sentido de respeito. Quanto muito, pelam-se de medo. Que é a reação natural de uma criança: alguém que não atingiu a maioridade emocional. Correm para o regaço da mãe aos trinta anos e lutam contra os filhos pelos mimos da esposa aos quarenta.

Faltam a almoços e a reuniões, não lavam a louça, nunca têm moedas para o café e deixam as roupas espalhadas pelo chão. Não fazem a cama nem fecham a porta da banheira.

Os homens arrotam, cospem no chão e compram a Xbox One com o dinheiro da renda. Não pagam o seguro do carro, aborrecem-se e pedem dinheiro emprestado.

Não choram, mas queixam-se por tudo e por nada. Aos 37,3 de febre dizem que estão com gripe, encharcam-se de Ilvicos e entopem as urgências dos hospitais.

As mulheres são mais sensíveis, mais civilizadas e portam-se melhor à mesa. Todas elas sonharam ser bailarinas em criança e gostam de artes cénicas. São delicadas, têm uma elegância natural e apreciam gestos graciosos. Sabem valorizar o bom gosto.

Os homens têm desmandos.

As mulheres têm juízo. São mais diligentes e esmeradas. Gostam mais de bebés, tratam melhor os animais e cuidam mais dos jardins. Onde mandam as mulheres até as flores crescem mais, e cheiram melhor, e vivem mais tempo.

Os homens são brutos e irascíveis. Fazem guerras e explodem bombas.

Bebem mais vinho e aguardente velha, ressonam mais e são mais agressivos no trânsito. Ameaçam, provocam e ofendem. Frequentemente pegam-se à porrada.

Assediam sexualmente, põem-se em bicos de pés, criam teorias da conspiração.

São básicos e mentirosos. Atrasam ordenados e matam a liberdade de expressão. Discutem penáltis, cartões amarelos e faltas a meio campo. Tornam-se hooligans. Contratam jogadores sem critério e despedem treinadores por sistema.

O futebol precisa de paz, precisa de maturidade, precisa de empatia.

O futebol precisa enfim de mais. Nas direções dos clubes, nos gabintes das comissões, atrás dos microfones: em todo o lado, no fundo. Precisa de mais mulheres, ponto.

Façam favor de passar.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, editor do Maisfutebol, que escreve aqui às sextas-feiras de quinze em quinze dias