Continua a ser uma das dúvidas mais prementes do futebol do Benfica: o que é a equipa ganhou afinal com a mudança para o 4x3x3?
Antes de mais, a resposta óbvia é que não ganhou.
Afinal de contas, o Benfica era campeão há quatro anos seguidos, sempre num esquema de 4x4x2, e, desde que mudou, deixou de o ser. A partir daí é difícil defender que mudou para melhor.
Mas vale a pena tentar ver para além disso.
Rui Vitória, por exemplo, fez questão de referir sempre que a alteração tática tinha a ver sobretudo com dois aspetos. Por um lado o reforço do meio campo, por outro lado o aproveitamento de Jonas.
Logo em novembro de 2017, numa das primeiras vezes que jogou com apenas um avançado na frente, o treinador explicou após o jogo o que mudava com aquela alteração tática.
«Jogando sozinho na frente, o Jonas centra muito a atenção dos centrais que o marcam e à volta dele temos vários jogadores que dão profundidade, como são os casos dos extremos, ou dos médios que entram na área para finalizar. O Jonas, prendendo os centrais, oferece-nos outras possibilidades para os outros jogadores que surgem por detrás», respondeu.
Esta declaração é polémica, porque parece redutor ter Jonas para prender apenas os centrais e libertar os companheiros. Afinal de contas, o brasileiro faz em condições normais sempre perto (ou acima) dos trinta golos por temporada. Ele vale pelo que marca e não pelo que permite marcar.
Mas em frente.
Esta conversa voltou a ser tema na semana passada, quando Rui Vitória falou ao podcast «Conversas à Benfica». Nessa altura, o treinador insistiu no mesmo ponto.
Disse que houve vontade de adaptar a equipa principal ao esquema utilizado em todos os escalões de formação, disse que se tornou urgente proteger fisicamente Jonas do trabalho defensivo e disse que este esquema tático permite a mais jogadores surgir em situação de finalização.
«O que é que pretendemos claramente hoje? A nossa forma de jogar é assim, em determinados momentos podemos jogar com dois avançados, mas o que nós queremos é que haja sempre jogadores dentro da área, apareçam eles pelos lados, por detrás, neste caso os médios ou os alas, mas apareçam na área. O nosso avançado tem de estar na área para fazer a assinatura no quadro.»
Ora vale a pena comparar estas declarações com os factos.
Rui Vitória diz que o 4x3x3 lhe permite guardar Jonas apenas para finalizar jogadas dentro da área. Antes de mais, o brasileiro parece ser muito mais do que apenas um finalizador. É um craque, que inventa golos, de todas as formas e feitios: não é um jogador de encostar à boca da baliza.
Mas há mais. Sendo certo, por exemplo, que Jonas voltou a fazer na época passada acima dos trinta golos na Liga, tal como tinha feito na primeira temporada de Rui Vitória, também é certo que o Benfica marcou sempre menos do que tinha feito na época anterior.
Ou seja, a ideia de que mais jogadores podem aparecer na área a finalizar (e subentende-se, a fazer golos) não encontra paralelo nos números.
Na primeira época de Rui Vitória, o Benfica fez 122 golos em 52 jogos, a uma média de 2,34 golos por jogo. No segundo ano marcou 118 golos em 54 jogos, a uma média de 2,18 golos por jogo. Na época passada, fez 94 golos em 47 jogos, a uma média de 2 golos por jogo. Já este ano, o Benfica leva 45 golos em 25 jogos, a uma média de 1,8 golos por jogo.
Sempre a descer, portanto.
O próprio Jonas, aliás, nunca marcou tão pouco como está a fazer esta temporada: sete golos em 11 jogos, a uma média de 0,67 golos por jogo. A pior média desde que chegou ao Benfica.
Mas será que o reforço do meio campo permite à equipa pelo menos defender melhor?
Os números também garantem que não. O Benfica nunca sofreu tantos golos como agora, aliás. Esta temporada já foi batido 27 vezes em 25 jogos, o que dá uma média de um golo por jogo. Na época passada, sofreu 45 golos em 47 jogos, a uma média de 0,95 golos por jogo.
Já nas duas primeiras épocas, na altura do 4x4x2, a média de golos sofridos por jogo desce consideravelmente. Na primeira época de Rui Vitória a equipa encaixou 42 bolas em 52 jogos (média de 0,80) e na segunda época encaixou 43 golos em 54 jogos (média de 0,79).
Ora no fim destas contas todos, podemos pelo menos questionar as explicações de Rui Vitória: porque ou o mister se explicou mal ou as explicações não fazem sentido.
Certo é que as palavras não batem certo com os números.
«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, subdiretor do Maisfutebol, que escreve aqui às terças-feiras de quinze em quinze dias