Não sei se repararam, mas há dias saiu uma notícia interessante que passou pelos pingos da chuva: anunciava o Benfica que a aposta para os próximos anos é a estratégia digital.

Basicamente a SAD encarnada garante que 50,4 por cento de todas as receitas já chegam do mercado internacional: contando-se nesta definição de mercado internacional tudo o que vem do estrangeiro, receitas de Champions, vendas de jogadores, merchandising, enfim. É um número admirável que indica o caminho para o futuro.

Mas o Benfica quer mais, quer mais adeptos, mais consumidores, mais receitas.

Diz ter um estudo feito por ele - que vale muito pouco externamente, portanto - que 50 milhões de pessoas em todo o mundo têm interesse no Benfica: ou seja, para 50 milhões de pessoas o nome do Benfica não é indiferente, tendo existido algum tipo de contacto.

É a esses milhões de pessoas que quer chegar, provocando algum envolvimento delas com a marca. Em linguagem técnica chama-se engagement.

É aqui que entra a estratégia digital.

O Benfica anunciou que está a trabalhar em parceria com empresas como a McKinzie e a Microsoft, tendo um total de 40 pessoas envolvidas diretamente no projeto.

Ora a estratégia digital é nesta altura fundamental em qualquer grande organizaqção.

Olhando de fora para FC Porto e Sporting, parece-me que o Benfica já é dos três grandes o clube que trabalha melhor as redes sociais. Mas isso não chega: não chega por que há por aí muitas empresas que trabalham de facto muito bem as redes sociais.

A social media, e o marketing digital em particular, tornou-se uma parte medular no crescimento de qualquer empresa. Permite comunicar melhor e chegar a mais gente.

É uma comunicação sem barreiras e sem fronteiras, muito mais eficaz do que as formas tradicionais de promoção. Permite utilizar várias ferramentas que tornam a mensagem mais sedutora, mais direcionada, mais emotiva. Falam diretamente ao coração.

A social media é enfim um mecanismo admirável de comunicação e comprometimento.

Vale a pena lembrar que Cristiano Ronaldo, por exemplo, faturou segundo a Forbes 164 milhões de euros com as redes sociais no último ano.

Anunciar que a estratégia digital é a grande aposta para os próximos três anos é um sinal de saúde, inteligência e planeamento.

Infelizmente para eles, os rivais parecem estar nesse aspeto um passo atrás. Um porque está demasiado ocupado em colocar a casa na ordem para ter tempo para pensar no futuro, outro porque já teve uma estratégia clara de valorização da marca mas perdeu-a com o desmantelamento da estrutura mais forte do futebol português, elogiada até na Europa.

Enquanto o isso, o mundo evolui a uma velocidade vertiginosa: e o mercado português é curto para sustentar um clube de topo europeu. 

É preciso encontrar novos públicos que comprem merchandising, mas sobretudo que gerem audiências: para o clube, para a marca e para os patrocinadores.

É um caminho longo que é preciso percorrer. 

É claro que a internacionalização traz inconvenientes: não gera adeptos, gera consumidores. Podem ter simpatia, mas não têm paixão. No dia em que não estiverem contentes com o produto, afastam-se dele. Mas esse é o preço a pagar.

Importante é aumentar o auditório. 

Até porque permite posicionar o clube na primeira linha de uma futura liga europeia: que será, mais tarde ou mais cedo, o presente. Mais simpatizantes, mais audiência, mais dinheiro, mais peso. Um clube assim é música para os ouvidos da UEFA.

Por isso, lá está, apostar na estratégia digital é um sinal de inteligência e perspicácia.

Vale a pena gastar menos tempo a discutir insignificâncias e pensar um bocadinho nisso.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, editor do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias