Enquanto via o Manchester City-Barcelona da última terça-feira dei por mim a pensar: quantas estrelas cabem numa equipa de futebol?
 
A dúvida, confesso, assaltou-me ao observar com mais cuidado Luis Suárez.
 
O avançado, dentro de toda aquela loucura bem arrumadinha em doses irrazoáveis, tem um brilho de estrela: sempre teve aliás. Foi estrela no Liverpool e foi estrela na seleção uruguaia. Era no fundo o centro do universo particular da equipa.
 
No Barcelona, porém, tornou-se mais um: toda aquela luminosidade de astro foi ofuscada por um brilho maior.
 
Lionel Messi, obviamente.
 
Luis Suárez parece ter aceitado bem a limitação de claridade e a redução a um espaço mais sombrio: o espaço de assistente de uma estrela maior. Nota-se na forma como procura Messi para o abraçar, para trocar um olhar, para o felicitar depois de mais uma jogada de génio.
 
Ora tudo isto levou-me a outra conclusão: as grandes equipas só têm uma estrela.
 
O Barcelona tem Messi, o Real Madrid tem Cristiano Ronaldo, o Chelsea tem Mourinho, o At. Madrid tem Simeone, o PSG tem Ibrahimovic, o Bayern Munique tem Guardiola.
 
Cavani podia ser estrela no Nápoles, mas tornou-se assistente no PSG. Hazard podia ser estrela no Lille, mas tornou-se assistente no Chelsea. Gareth Bale era seguramente a estrela do Tottenham, mas tornou-se assistente no Real Madrid.
 
Até o Real dos galáticos, por exemplo, conseguiu juntar várias estrelas. Primeiro Raul, que depois se tornou assistente de Figo. Depois Figo, que se tornou assistente de Zidane. Mais tarde chegaram Ronaldo e Beckham, e continuaram a ser assistentes de Zidane.

Muito provavelmente foi por isso que Ibrahimovic, por exemplo, não funcionou no Barcelona. Nunca aceitou ser assistente de Messi. Ou foi por isso que Ronaldo e Mourinho acabaram por se dar tão mal em Madrid: nenhum aceitava ser uma figura secundária.
 
No fundo é isso: uma estrela grande, muitos assistentes, uma equipa vencedora.
 
Pode estar no relvado ou pode estar no banco. Mas tem de estar: e tem de ser grande.
 
É por exemplo isso que falta ao Manchester City. Uma estrela grande, que ilumine a equipa e conduza os companheiros. A verdade é que o City tem grandes craques, mas não tem uma estrela definida. Pode ser Yaya Touré, pode ser Kun Aguero, pode até ser David Silva. Basta escolher, e todas as escolhas são possíveis: porque nenhuma é óbvia.
 
Até em Portugal, de resto, há o Benfica de Jesus e o FC Porto de Jackson Martínez.
 
Como houve o FC Porto de Hulk, de Villas-Boas, de Lucho González e de José Mourinho. Mais o Benfica de Simão. E o Sporting de Jardel, claro.
 
Só encontro uma exceção, mas todas as regras têm a exceção, lá está: a Alemanha do Mundial 2014. Uma equipa campeã formada só por assistentes. Sem uma estrela óbvia.
 
Mas voltando atrás, interessa destacar este exercício de tornar estrelas em assistentes de uma estrela maior, porque no fundo esse é o segredo do sucesso.
 
Uma equipa não suporta a coexistência de mais do que uma estrela, se alguma delas não admitir tornar-se assistente.
 
O que me remete para uma velha teoria minha: não acredito em amizades de balneário. Acho que é impossível vinte e cinco ou vinte e seis pessoas, com personalidades diferentes e feitios diferentes, serem todos amigos e gostarem todos muito uns dos outros.
 
O que acredito, sim, é num pacto de existência: um pacto de aceitação e bom relacionamento em benefício de um bem comum. O sucesso coletivo.
 
Para esse benefício comum é necessário um ou mais jogadores abdicarem do papel principal: porque todas as histórias têm apenas um herói.
 
Uma estrela, lá está.
 
O que Luis Suárez, Gareth Bale ou Cavani fizeram é para mim admirável.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias