Ponto prévio: já tive oportunidade de conversar informalmente duas ou três vezes com Bruno de Carvalho e em todas elas saí do encontro bem impressionado com o presidente.

Pensa o futebol da maneira que eu penso, e que, acredito, é a correta.

Bruno de Carvalho defendeu, por exemplo, a centralização da venda dos direitos televisivos, não como se faz em Inglaterra mas num modelo próximo do italiano.

Na Série A, recorde-se, as receitas televisivas são distribuídas pelos clubes tendo em atenção vários factores: adeptos do clube, habitantes da cidade, resultados do ano anterior e média de resultados das últimas cinco épocas.

Como se sabe esse não foi o caminho seguido, muito por culpa do Benfica, é verdade.

Mas há mais.

Bruno de Carvalho sempre se insurgiu contra o paradigma que assiste à existência da Liga de Clubes. Diz ele que as reuniões na Liga só servem para discutir arbitragem: um presidente queixa-se do último penálti, um diretor duvida de determinado fora de jogo.

Ninguém discute os temas de facto importantes para o futebol.

Por isso defendia que a Liga de Clubes devia mudar, para se aproximar do que acontece em Inglaterra: tornar-se uma unidade de negócio. Basicamente seria uma entidade privada detida pelos clubes da I Liga, sendo que cada clube tem um certo número de ações da Liga.

Quando desce o clube cede a participação ao clube que sobe, mas durante dois anos recebe parte das receitas televisivas para não se gerar um fosso grande. 

Tudo isto permitiria à Liga de Clubes tornar-se um espaço  apenas para tratar do negócio futebol: negociação dos direitos televisivos, de patrocínios, de contratos de publicidade. Tudo o que é arbitragem, tudo o que é disciplina, tudo o que não faz parte do negócio futebol passaria para comissões independentes.

Mais uma vez muito bem: totalmente de acordo.

Mas ainda há mais.

Bruno de Carvalho defendia também que os presidentes dos clubes não têm de ser amigos, mas têm de ser capazes de trabalhar em conjunto pela valorização do negócio futebol, sob pena de um dia destes os clubes não terem audiências.

Criticava ele que os dirigentes são os primeiros a desvalorizar o jogo, enchendo-o de suspeição e negatividade, e acrescentava que era preciso tornar o negócio um produto mais charmoso, atraente e sedutor.

O que traria mais público, mais dinheiro e um melhor futebol.

Admirável, não é?

Infelizmente o que se vê do presidente do Sporting não tem muito a ver com o que ele defende que devia ser o futebol português. O que se vê é Bruno de Carvalho em tricas constantes com dirigentes, árbitros e até treinadores.

Um presidente constantemente na crista da onda, e nem sempre pelos melhores motivos.

O que é mais doloroso é que Bruno de Carvalho é um dirigente jovem, que acabou de chegar ao futebol.

Não é um homem sem formação, não traz vícios de antigamente, sabe o que o negócio precisa, mas mesmo assim comporta-se como todos os outros: achando que quem grita mais, está mais perto de ganhar jogos.

Há dias, o treinador Marc do Santos, que está a trabalhar nos Estados Unidos, dizia  ao Maisfutebol que gosta de seguir um velho ditado americano.

Walk the way you talk.

O futebol português precisa desse Bruno de Carvalho: que reflita sobre os temas importantes, que tenha ideias frescas e que caminhe do jeito que fala.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, editor do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias