Bragança viveu inebriada durante uma hora e teve um doce despertar. O sonho acabou, é verdade, mas para as gentes de um distrito que nunca teve uma equipa na primeira divisão do futebol nacional foi bom de mais. Durou, durou, durou. Durou 70 minutos, tantos, aliás, que por momentos pareceu ser bem mais do que um sonho.
Sobretudo durante uma boa meia-hora em que o Bragança não ficou a dever nada ao Belenenses. A formação de Jorge Jesus mostrou logo desde cedo ser de outra dimensão, mas essa evidência esbateu-se quando uma falha de marcação permitiu a Rui Nélson bater um canto que Tony desviou ao primeiro poste para golo.
Nesse instante o Belenenses descaracterizou-se. A lesão de Costinha, logo a seguir, provocada por uma entrada maldosa de Tony, quebrou o ritmo do Belenenses e o Bragança aproveitou para impor o futebol alegre e feito de progressões sustentadas no meio-campo adversário, com uma ou outra oportunidade de golo pelo meio.
Para lá do Marão...
A melhor delas surgiu já na segunda parte. Marcava o relógio 50 minutos quando, na sequência de um canto, Vinicius surgiu solto a cabecear à vontade, mas falhou e acertou na bola com o ombro. A jogada saiu fraca e permitiu a defesa de Marco, que tinha entrado para o lugar de Costinha. Esse momento decidiu o jogo. O Belenenses ganhou novo ânimo a partir de então e partiu para vinte minutos de domínio em que deu a volta ao jogo. As cerca de cinco mil pessoas que lotaram o Municipal de Bragança nunca se deram por derrotadas, mas foi apenas da euforia que encheu o recinto. Uma euforia que alimentou também os jogadores do Bragança para aquele que deve ter sido, muito provavelmente, o jogo da vida deles.
... para cá do sonho
Quando o Belenenses apertou, porém, fez dois golos. Ambos em jogadas de bola parada, ambos aproveitando falhas de marcações que só são normais em equipas inferiores. Dady, primeiro, Nivaldo, depois, silenciaram o Municipal de Bragança por momentos. Mas apenas por momentos. Pouco depois o público voltou a fazer a festa e até após o apito final fez questão de despedir-se do jogo com uma salva de palmas. Um jogo que acabou com alguma polémica. Josivan, esse mesmo, que já fez parte do plantel do F.C. Porto e entrara pouco antes no jogo, já em tempo de descontos, ainda voltou a empatar o jogo, mas a jogada foi anulada por fora-de-jogo. Um lance muito rápido. Como rápida foi a festa para quem a viveu por dentro.