As equipas desconfiam, os fãs anseiam, os pilotos aguardam para ver. A próxima temporada de Fórmula 1 ameaça ser mais uma revolução no campeonato, algo que, a espaços, vai acontecendo com mudanças normativas. Mas desta vez não se trata de uma mudança qualquer: é a maior desde 1995. 

O Grande Prémio do Brasil do próximo domingo (16 horas) não significa apenas o ponto final da época que fica, claro está, marcada pelo tetracampeonato de Sebastian Vettel. É, também, o fim de uma era, com o adeus anunciado dos motores V8 atmosféricos que serão substituídos pelos V6 turbo de 1.6l, bem mais amigos do ambiente.

A mudança, proposta pela FIA, levantou desde logo dúvidas em várias equipas e, sobretudo, em Bernie Ecclestone o «conhecido» patrão da Fórmula 1, que chegou a afirmar que a mudança no tradicional som dos carros iria descaracterizar toda a categoria e afastar os fãs. 

O som dos novos motores V6 turbo:



Nesta altura é, ainda, impossível prever que mudanças ao certo trarão as novas normas, para além, lá está, dos novos motores. Sabe-se, pelo que vão dizendo os especialistas, que os motores voltarão a desempenhar um papel determinante no rendimento dos carros, batendo até as características aerodinâmicas, por estes dias o principal fator decisivo.

Veja-se o exemplo do carro da Red Bull, a todos os títulos dominador nos últimos anos. Os menos atentos ao fenómeno estranharão que um carro que tanto ganha seja, na verdade, o que tem menor velocidade de ponta. Mas é verdade. Compensa com uma aerodinâmica acima da média que permite um desempenho muito mais eficaz nas zonas sinuosas das pistas.

Em 2014, ter um motor com menor rendimento poderá não dar para compensar com aerodinâmica. E é aí que os fãs apostam as fichas para ver, de novo, uma época competitiva na Fórmula 1.

Os motores turbo existiram na Fórmula 1 até 1988, altura em que foram substituídos pelos aspirados de 3.5l. Agora estão de volta.

Assim, esta promete ser a maior revolução na Fórmula 1 desde 1995, quando à morte de Ayrton Senna, em maio de 1994, a FIA reagiu com um conjunto de normas de modo a reduzir a potência dos monolugares.

Para além dos motores, existirão mudanças a nível do peso mínimo dos carros que será aumentado e, também, no próprio visual dos monolugares. O «bico» mais baixo promete tornar os carros mais feios o que também está a gerar burburinho e a despertar a curiosidade dos seguidores.

Outras principais «revoluções» na Fórmula 1 nos últimos 20 anos

1994 O sistema de controlo de tração, que levou a Williams a interromper o domínio da McLaren, é banido. A Benetton chega ao título.

1995 A morte de Ayrton Senna «obriga» a FIA a tomar medidas e esta reage com mudanças apertadas na política de motores, de modo a limitar a potência dos monolugares. A Benetton, com Michael Schumacher, conquista o bicampeonato.

2005 Os motores V10, que predominavam desde 1989, são banidos da Fórmula 1. A Renault, por Fernando Alonso, interrompe a série de cinco campeonatos seguidos da Ferrari de Michael Schumacher.

2006 Introdução do sistema de qualificação dividido em três partes que vigora até hoje.

2007 A Fórmula 1 passa a funcionar com um fornecedor único de pneus, no caso a Bridgestone. Atualmente é a Pirelli.

2011 Introdução do DRS, o sistema de auxílio à ultrapassagem. Coincidiu com a reintrodução do KERS, sistema testado anos antes e banido em 2009.

2014 Motores V8 atmosféricos são trocados pelos V6 turbo de 1.6L.

Outros motivos de interesse para o Grande Prémio do Brasil

É verdade que o fim de uma era é motivo mais do que suficiente para despertar a atenção mas, caso não chegue, deixamos aqui mais alguns pontos de destaque.

Sebastian Vettel, desde logo. O já campeão tem uma oportunidade de ouro para igualar um recorde mítico da Fórmula 1: nove vitórias seguidas. Depois de ter superado o melhor registo de Michael Schumacher com o triunfo em Austin, Vettel segue na senda de Alberto Ascari, bicampeão do mundo nos anos primórdios, que venceu nove corridas seguidas, com uma diferença: foi em duas épocas diferentes (1952 e 53).

Ou seja, se vencer no Brasil Vettel iguala o registo e poderá batê-lo ganhando na Austrália na primeira corrida de 2014.

Mas Vettel terá de lidar com competição interna para bater essa marca. É que Mark Webber certamente quererá uma vitória na sua despedida da Fórmula 1. O piloto australiano, que este ano foi o mais velho do grid, colocou um ponto final numa carreira no «Grande Circo» que começou em 2002 e vai para o Mundial de Resistência.

Também a despedir-se, mas apenas de uma equipa, estará Felipe Massa. O brasileiro diz adeus à Ferrari «em casa». Ganhar, algo que não consegue desde 2008, também no Brasil, seria o sonho do brasileiro antes de rumar à Williams.

Sergio Pérez também se despede da McLaren, tal como Pastor Maldonado da Williams e Daniel Ricciardo da Toro Rosso, antes de ser promovido à Red Bull.

Por fim, também a nível técnico haverá pontos finais. A Cosworth, que atualmente só fornece motores à Marussia, sai da Fórmula 1. A equipa vai receber motores Ferrari em 2014. A Williams também utilizará pela última vez motores Renault, antes de mudar para os Mercedes e a Toro Rosso motores Ferrari, visto que em 2014 usará Renault.

Não chega? Fica, então, um dado que pode fazer toda a diferença: há previsão de chuva para a corrida. Já está convencido?