Aos 29 minutos da meia-final Brasil-Alemanha estava consumado o que 200 milhões de brasileiros temiam. Com o devido sotaque germânico, Belo Horizonte era o epicentro do que poderá chamar-se «Das Mineirazo».

Quando a Alemanha fez o quinto golo sem resposta, o desmoronar do sonho brasileiro já estava realizado desde a sucessão dos golos anteriores. Mas o 5-0 aos 29 minutos de jogo foi algo que nunca tinha acontecido – nunca – nestas 20 edições de Campeonato do Mundo.

O mais semelhante aconteceu no Mundial 1974 quando a Jugoslávia ganhou 9-0 ao Zaire. Mas demorou mais um minuto – foi aos 30` – que os jugoslavos marcaram o quinto golo. Há um facto semelhante: os golos aconteceram, do primeiro ao quinto, com 19 minutos de diferença – no Jugoslávia-Zaire os golos aconteceram entre o minuto 12 e o 30; neste Brasil-Alemanha, entre o minuto 11 e o 19.

Bernard foi o jogador escolhido Luiz Felipe Scolari para ocupar o lugar de Neymar no onze. Na defesa brasileira, o capitão David Luiz teve a parceria de Dante no centro (substituindo cada um ao seu jeito o castigado Thiago Silva). Durou 10 minutos a ilusão brasileira do «hexa», com mais iniciativa no terreno traduzida apenas na posse de bola e sem causar sobressaltos.

Joachim Löw repetiu pela segunda vez uma equipa neste Mundial e escolheu para titulares os mesmos onze que venceram a França nos quartos de final, com Klose na frente. Esta máquina alemã tão bem oleada desde o seu treinador até aos suplentes mostrou-se indiferente ao adversário pentacampeão que jogava em casa com dezenas de milhar de adeptos vestidos de amarelo no Estádio Mineirão.

O esticar da equipa brasileira até à área alemã que (também) pretendia pressionar na saída do adversário foi tudo o que os germânicos precisaram para começar o que tão bem sabem fazer com este seu jogo de trocas de bola exemplarmente bem apoiadas. Os alemães não se intimidavam com a pressão(?) brasileira e preparavam-se para explorar o espaço que ia ficando entre linhas.

E o empurrão até acabou por ser dado pelo Brasil. A(s) falha(s) de marcação num pontapé de canto a favor da Alemanha ajudou(aram) o jogador que faz lembrar Rumennigge num outro futebol. Müller inaugurou o marcador aos 11 minutos e as trevas caíram sobre os brasileiros. Jogadores e equipa técnica reconheceram depois do jogo o «apagão» que a equipa brasileira sofreu aí.



O escrete falhou defensivamente. Müller marcou. E a estratégia dos panzer deste novo século estava em curso – ao lado do desastre que foi a equipa brasileira. Foi como dar o ouro ao bandido: de um lado, uma equipa em estado de completo desnorte, sem ideias, a desorganizar-se – melhor, a desmoronar-se – e, pior do que isso, sem saber como impedir a cavalgada do adversário; do outro, uma máquina de ataque pensado e fria, a executar na perfeição tudo aquilo que sabe exatamente que tem de fazer. Assim se chegou a 5-0 no período de 19 minutos.

Fim da história? Não propriamente. Ao segundo golo alemão, mais história; um momento histórico, em concreto. Miroslav Klose tornou-se o melhor marcador em absoluto dos vinte Campeonatos do Mundo. O avançado alemão que marcou em quatro Mundiais fez o seu 16º golo nesta competição e deixou para trás, de vez trás, Ronaldo (15) – que assistiu a isto tudo no Mineirão.

São dezasseis golos de Klose em quatro edições (2002, com cinco golos; 2006, cinco golos; 2010, quatro golos e 2014, dois golos) – onde chegou às quatro meias-finais: outro recorde absoluto. O melhor marcador de sempre da «Mannschaft» (71 golos em 136 jogos) fez o 23º jogo em Campeonatos do Mundo (igualou Maldini ficando apenas atrás do compatriota Lothar Matthäus: 25). Tudo de bom para os alemães, incluindo a presença na final do Mundial 2014 - a oitava final, à procura do quarto título Mundial. Para os brasileiros, tudo de mau.



Aos 5-0 da primeira parte seguiu-se um segundo tempo diferente. Mas nem tanto assim. E os germânicos voltaram a ganhar 2-1 no parcial. A história ficou escrita desde cedo. O «hexa» que era para ser de um título foi umaa mão cheia de golos sofridos como nunca. E que trouxe uma humilhação como nunca. A pior derrota do Brasil tinha sido pela mesma diferença, mas já tinha 94 anos, quando os brasileiros perderam 6-0 com o Uruguai, em 1920.

Se o Brasil já tinha o seu «Maracanazo» quando, em 1950, perdeu a final do Mundial em casa no Maracanã, agora terá o seu «Mineirazo» com a pior derrota sofrida por uma seleção anfitriã num Mundial – a maior desvantagem sofrida tinha sido de três golos sofridos: África do Sul-Uruguai, 0-3 (2010); México-Itália, 1-4 (1970); e Suécia-Brasil, 2-5 (final de 1952).

Não se estranhará por isso que o «termo» criado já antes deste jogo, passe agora a ter os «utilizadores» que conhecem o seu antecessor. Incluindo os brasileiros, como confessaram alguns entrevistados na televisão. E como se vai propagando nas redes sociais.




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