Roy Hogdson, o selecionador da Inglaterra, não faz por menos. Se os adeptos estão preocupados com o nome dos adversários que sairão do sorteio desta sexta-feira, a preocupação do treinador é outra. «Os locais onde jogaremos preocupam-me mais do que os adversários.» O clima no Brasil, mas também as horas a que jogarão e as distâncias que terão de percorrer são questões centrais para todos os selecionadores.

Hodgson teme sobretudo as diferenças climáticas, que vão de um clima primaveril nas cidades do sul do Brasil, como Porto Alegre ou Curitiba, ao calor húmido de Manaus, na Amazónia. A maioria das cidades registam temperaturas máximas na altura do ano em que se jogará o Mundial superiores a 30 graus, como pode ver no registo no final deste artigo.

Por isto, as horas dos jogos também terão importância. O primeiro horário previsto é 13h locais (17h em Portugal). Portanto, a hora de maior calor. Aliás, recentemente Joseph Blatter ainda veio deixar em aberto a hipótese de alterar este primeiro horário, preocupado com o calor, mas pouco depois veio dizer que não, que se mantinha.

Depois, há as distâncias. Apesar de estarmos a falar do quinto maior país do mundo, a FIFA e a organização do Mundial não quiseram fazer um calendário baseado numa lógica de concentração geográfica. O resultado é um mapa muito disperso. E, decididamente, posições que qualquer selecionador quererá evitar.

Se o Brasil, no Grupo A, posição 1, vai percorrer 4000km para os seus três jogos da primeira fase, entre São Paulo, Fortaleza e Brasília (o anfitrião é o único que sabe desde já a sua posição), a equipa que ficar na posição dois do grupo A está bem pior: nada menos que 5531 km entre São Paulo, Manaus e o Recife.

Os cabeças de série de cada grupo viajam menos do que as outras equipas. E aí não há melhor que o Grupo H: a equipa que calhar no H1 terá de fazer apenas 698 quilómetros entre Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.

A FIFA fez uma estimativa das horas de voo entre cidades, que pode ver aqui:


Legenda: BHZ (Belo Horizonte); BRS (Brasília); CBA (Cuiabá); CUR (Curitiba); FTL (Fortaleza); MAN (Manaus); NTL (Natal); PTA (Porto Alegre); RCF (Recife); RIO (Rio Janeiro); SAL (Salvador); SAO (São Paulo)

Do Recife ou São Paulo a Manaus são mais de quatro horas, e a equipa A2 terá de fazer duas dessas viagens. Portanto, não é de admirar que muitos selecionadores pensem mais ou menos como Hodgson. Não apenas no ranking dos adversários e nos cenários competitivos, mas muito na logística.

Também por isso, porque a amplitude geográfica e o grau de incerteza são grandes, ainda não há muitas seleções com quartéis-generais definidos nesta altura. Todas, tal como Portugal, já estiveram no Brasil a ver opções e têm opções preferenciais, mas esperam para ver. Falta pouco.

As distâncias que cada equipa percorrerá na primeira fase:
(Fonte: Globo)

A1 (Brasil): São Paulo-Fortaleza-Brasília: 4.062 km
A2: São Paulo-Manaus-Recife: 5.531 km
A3: Natal-Fortaleza-Recife: 1.065 km
A4: Natal-Manaus-Brasília: 4.704 km

B1: Salvador-Rio-Curitiba: 1.888 km
B2: Salvador-Porto Alegre-São Paulo: 3.159 km
B3: Cuiabá-Rio-São Paulo: 1.936 km
B4: Cuiabá-Porto Alegre-Curitiba: 2.228 km

C1: Belo Horizonte-Brasília-Cuiabá: 1.500 km
C2: Belo Horizonte-Natal-Fortaleza: 2.269 km
C3: Recife-Brasília-Fortaleza: 3.349 km
C4: Recife-Natal-Cuiabá: 2.782 km

D1: Fortaleza-São Paulo-Natal: 4.697 km
D2: Fortaleza-Recife-Belo Horizonte: 2.272 km
D3: Manaus-São Paulo-Belo Horizonte: 3.184 km
D4: Manaus-Recife-Natal: 3.092 km

E1: Brasília-Salvador-Manaus: 3.672 km
E2: Brasília-Curitiba-Rio: 1.759 km
E3: Porto Alegre-Salvador-Rio: 3.518 km
E4: Porto Alegre-Curitiba-Manaus: 3.285 km

F1: Rio-Belo Horizonte-Porto Alegre: 1.683 km
F2: Rio-Cuiabá-Salvador: 3.496 km
F3: Curitiba-Belo Horizonte-Salvador: 1.788 km 
F4: Curitiba-Cuiabá-Porto Alegre: 2.985 km

G1: Salvador-Fortaleza-Recife: 1.659 km
G2: Salvador-Manaus-Brasília: 4.545 km
G3: Natal-Fortaleza-Brasília: 2.125 km
G4: Natal-Manaus-Recife: 5.607 km

H1: Belo Horizonte-Rio-São Paulo: 698 km
H2: Belo Horizonte-Porto Alegre-Curitiba: 1.890 km
H3: Cuiabá-Rio-Curitiba: 2.254 km
H4: Cuiabá-Porto Alegre-São Paulo: 2.534 km

Temperaturas máximas em junho nas cidades-sede
Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), citado pelo Estadão

Belo Horizonte
2013: de 22 a 29 graus
2012: de 22 a 29

Cuiabá
2013: de 29 a 36
2012: de 17 a 35

Curitiba
2013: de 14 a 25
2012: de 11 a 25

Brasília
2013: de 21 a 28
2012: de 24 a 29

Fortaleza
2013: de 28 a 31
2012: de 28 a 32

Manaus
2013: de 31 a 34
2012: de 28 a 34

Natal
2013: de 26 a 30
2012: de 26 a 30

Porto Alegre
2013: de 15 a 25
2012: de 14 a 31

Recife
2013: de 26 a 30
2012: de 27 a 30

Rio de Janeiro
2013: de 23 a 33
2012: de 22 a 35

Salvador
2013: Registos incompletos
2012: de 24 a 30

São Paulo
2013: de 16 a 26
2012: de 18 a 28