De novo em novembro, de novo bem cedo: o Cruzeiro de Marcelo Oliveira é campeão pela segunda vez seguida, alargando para quatro o total de títulos do Brasileirão da história da Raposa (os outros foram conquistados em 1996 e 2003).

Como de forma acertada escreveu o jornalista Alexandre Alliatti, no Globo, «o Cruzeiro, de tão superior, não foi campeão: o Cruzeiro vem sendo campeão». 

E, de facto, desde bem cedo a Raposa -- embalada pela forma como obteve o título em 2013 (campeão a 14 de novembro, beneficiando da derrota do At. Paranaense) -- ganhou vantagem no Brasileirão 2014.

Líder desde a sexta ronda, o Cruzeiro passou o ano quase todo na frente e, somando 76 pontos à jornada 36, tem tudo para bater o recorde de pontos desde que o Brasileirão se disputa com 20 equipas (78 do São Paulo em 2006).

Sem rival direto a ameaçá-la de forma clara (o São Paulo só aparece como segundo a sonhar com o primeiro em fase mais adiantada da competição), a equipa mineira chegou a ter fase de descompressão, mas nesta reta final voltou a encontrar o caminho das vitórias.

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Não chegou a ser tão precoce como em 2013, altura em que o Cruzeiro chegou ao título na jornada 34, mas quase: à ronda 36, ainda com duas jornadas por disputar, os 76 pontos da Raposa garantem já o segundo título seguido, com mais sete que o segundo classificado, o São Paulo.

Pelo segundo ano consecutivo, o Cruzeiro foi, de longe, a melhor equipa do Brasileirão: a mais regular, a mais equilibrada, a que mostrou um coletivo mais forte (trunfo especialmente importante num futebol, como o brasileiro, com equipas que dispõem de grandes talentos mas ainda muito marcadas por uma certa anarquia tática).

E aí haverá muito «dedo» de Marcelo Oliveira, técnico de 59 anos, durante muitos anos longe do lote de principais treinadores brasileiros, mas que voltou a provar que com organização, trabalho continuado e sagacidade, mesmo um técnico discreto pode ter sucesso no Brasil. 

Continuidade

Se há um ano o Cruzeiro teve o mérito de ser campeão depois de ter alterado perto de 70% do plantel, o mesmo não sucedeu em 2014.

Uma das chaves de mais este sucesso terá mesmo sido a continuidade: jogadores como Everton Ribeiro e Ricardo Goulart (curiosamente, os autores dos dois golos do triunfo desta noite com o Goiás), ou ainda Lucas Silva, voltaram a ser decisivos ao longo da época. 

Goulart é, de resto, forte candidato ao prémio de melhor marcador do Brasileirão, somando agora 15 golos, pecúlio que lhe confere a liderança dessa contagem, a apenas duas rondas do fim da prova (a par de Fred, do Fluminense, e de Henrique, do Palmeiras).

RICARDO GOULART, LÍDER DOS MARCADORES DO BRASILEIRÃO



À continuidade de um onze-base, Marcelo Oliveira juntou algumas unidades importantes, como o avançado boliviano Marcelo Moreno, segundo melhor marcador da equipa, e que na época passada defendeu as cores do Flamengo.

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Tinga campeão... mas pouco

O ex-sportinguista Tinga, agora com 36 anos, também é campeão... mas pouco. Isto porque o médio sofreu gravíssima lesão em agosto passado, fraturando tíbia e fíbula da perna direita. Tinga ficou muito tempo inativo e perdeu, desde aí, o comboio da titularidade. Em declarações recentes ao jornal gaúcho «Zero Hora», o ex-sportinguista explicou assim o segundo sucesso seguido do seu Cruzeiro: «Não há um segredo só. Se existisse uma fórmula só, qualquer um poderia ser campeão. São muitos fatores. A diretoria cumpre o planeado, não muda conforme a circunstância ou pressão da torcida e imprensa quando os resultados não acontecem». 

Lá está: organização e continuidade, duas coisas que rareiam no futebol brasileiro, mesmo nos grandes clubes (basta ver a autêntica dança de cadeiras entre treinadores nos principais emblemas, nos últimos anos).