De abril a dezembro, com pausa para o Campeonato do Mundo pelo meio, a maratona que é o Brasileirão chegou a meio caminho. Com um favorito claro: o Cruzeiro, lançado para revalidar o título. Uma referência de estabilidade num campeonato que não tem tido muito disso, e onde é tudo muito incerto daí para baixo. 

O Cruzeiro manteve esta época Marcelo Oliveira, o técnico que levou a equipa à conquista do título de 2013, e volta a fazer um percurso sem sobressaltos de maior, em contraste com os rivais. Os números desta época no Brasileirão, ainda que ofuscados por uma campanha na Libertadores que acabou nos quartos de final, são ainda mais dominadores que os da temporada passada. 

Mesmo não tendo conseguido vencer na jornada 19 (empatou a três golos com o Fluminense), a Raposa chega a meio caminho com sete pontos de vantagem sobre o São Paulo, agora segundo classificado, a maior distância de sempre no corrente formato do Brasileiro. O anterior recorde era do próprio São Paulo, seis pontos em 2007.

Falamos de duas das únicas oito equipas que ainda não mudaram de treinador até agora. Em 19 jornadas houve nada menos que 18 mudanças de treinadores, envolvendo 12 clubes. A última chicotada foi no Palmeiras, onde Dorival Júnior substitui na semana passada o argentino Ricardo Gareca, que já era o terceiro homem no banco. O Verdão está nesta altura no limite da linha de água, a reviver o pesadelo bem recente da descida à II Divisão, no ano em que celebra o seu centenário.

A primeira chicotada no Brasileirão aconteceu logo após a primeira jornada, quando Paulo Autuori foi afastado do At. Mineiro. A partir daí seguiu, em ritmo intenso.

Dois dos grandes do Brasil mudaram de treinador já depois da paragem de mais de um mês para o Mundial 2014. A começar pelo Gremio, que foi buscar o próprio Luiz Felipe Scolari, o treinador que orientou a canarinha no Campeonato do Mundo. Também o Flamengo, que recuperou outro senador dos treinadores brasileiros, Vanderlei Luxemburgo.

Não correu mal para ambos até agora a mudança. Luxemburgo chegou com o Fla no último lugar e vira a primeira volta na 10ª posição, já na primeira metade da tabela. E Scolari, a quem o Grémio deu uma oportunidade apesar do vexame que foi o Mundial do Brasil, assumiu o clube na 11ª posição e é nesta altura sexto classificado. Já a olhar para cima, num campeonato muito aberto a partir do segundo lugar para baixo.

Ainda neste fim de semana, na 19ª jornada, houve mudança na vice-liderança. A derrota caseira do Internacional de Porto Alegre frente ao Fluminense permitiu ao São Paulo assumir a posição. 

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O São Paulo tem sido um dos grandes animadores desta primeira volta, com estrelas como Alexandre Pato, agora também Kaká e ainda Paulo Henrique Ganso, talento com uma carreira muito limitada por lesões a viver dias felizes no Morumbi. 

É também, num levantamento feito pelo jornal Estado de São Paulo, o clube com melhor média de assistências no estádio, mano a mano com o Corinthians, ambos com média de 29500 espectadores por jogo. Seguem-se Flamengo e Fluminense, o líder Cruzeiro só aparece em quinto na lista, com 21.800 adeptos de média nos nove jogos já cumpridos em casa.    

Mas, sinal dos tempos, o São Paulo atravessa um momento complicado. Finanças, crise, outra tendência do futebol brasileiro. O Botafogo tem vivido uma situação dramática que se arrasta, agora também o São Paulo está com dificuldades em cumprir pagamentos com o plantel e funcionários.

Um problema profundo no centro do debate sobre o futebol brasileiro, na ressaca do Mundial. Ainda nesta segunda-feira o presidente do Corinthians assumia, em entrevista ao Estadão, que esta é uma questão transversal e estrutural. «O Brasil precisa de rever conceitos e métodos de gestão dos clubes. Passamos por uma crise muito difícil porque deixámos inflacionar as despesas», diz Mario Gobbi: «O futebol brasileiro vive hoje num patamar de finanças incompatível com a economia do país.»