Imagine este cenário: Neymar a entrar num avião para Glasgow, para disputar um jogo da Liga dos Campeões, e a apontar uma morada do Alentejo. Estádio do Moura Atlético Clube, Rua da Liberdade, 7860 - Moura.

Foi mesmo assim. Tudo por causa de Bruno Agnello, jogador do Moura que se formou no Santos e é amigo do craque do Barcelona. O internacional brasileiro recebeu o pedido e respondeu com a humildade de sempre. No espaço de uma semana, fez chegar dois pares de chuteiras à cidade que se ergue na planície alentejana.

Bruno conhece Neymar desde que este tinha apenas 16 anos. Aliás, Bruno era uma figura popular no Santos e convive em Portugal com Fucile, Danilo e Alex Sandro. Para além disso, é padrinho de casamento de Paulo Henrique Ganso.

Comecemos pelo mais famoso, nesta altura. A chegada de Neymar a Barcelona não afetou a relação de amizade de longa data. «Aliás, ele até se mostra mais disponível nesta altura. Do pouco que lhe pedi, ele respondeu logo que sim», explica Bruno Agnello, ao Maisfutebol.

O episódio das chuteiras é sintomático. «Há umas semanas pedi-lhe um par de chuteiras e já sabia que não podiam ser dele porque não calçamos o mesmo número. Ele disse que sim mas até pensei que podia demorar. O que ele fez depois surpreendeu-me.»

«O Neymar estava a embarcar para a Escócia, para jogar com o Celtic para a Liga dos Campeões, quando entrou em contacto comigo e me pediu uma morada para enviar as chuteiras. Dei-lhe a morada do estádio do Moura, porque era mais fácil, e uma semana depois estavam lá dois pares de chuteiras novas para mim», revela o médio brasileiro de 27 anos.

Bruno Agnello ficou encantado. Neymar deve ter encaminhado o pedido para a marca desportiva que o patrocina, a informação chegou a Lisboa e as chuteiras seguiram daí para o Estádio do Moura Atlético Clube, Rua da Liberdade, código postal 7860.



O reencontro com Neymar e a camisola que Ganso usou na Luz

Esta semana, o médio do Moura AC reencontrou o avançado do Barcelona. «Estava no Porto a tratar do meu joelho com o António Dias, que trabalhou no FC Porto e está agora no Rio Ave. Percebi que o Barcelona ia jogar a Vigo com o Celta, era perto e decidi falar com o Neymar. Ele arranjou-me os bilhetes e lá fui eu com uns amigos.»

«Já tinha combinado com ele ir ver um jogo do Barcelona, até tínhamos pensado no jogo em Sevilha, mais perto do Alentejo, mas acabou por ser melhor assim», explica Bruno.

Uma vez mais, Neymar respeitou a amizade que os une. «Antes do jogo, enquanto se preparava, ia-me dizendo onde levantar os bilhetes que deixou para mim. E ainda me disse para passar pelo hotel onde estavam depois do jogo. Fui, levei quatro camisolas de adeptos que estavam à porta e ele autografou, sempre com humildade. Ficámos meia-hora à conversa.»

«Já conheço o Neymar há vários anos e ele sempre foi muito maduro. Tinha uma boa estrutura à volta dele e continua a ser assim. Anda sempre com seis ou sete amigos que o acompanham», diz Bruno Agnello.

Fica então a provocação, a pergunta colocada a um brasileiro que joga em Portugal: Neymar ou Cristiano Ronaldo? «Ah, Neymar e cinquenta vezes na frente! Claro que eu ia dizer isto, não é? Ele respeita muito o Ronaldo, não tem pressa, mas acredito que daqui a dois anos o Neymar estará no topo.»

«Para mim, olho para ele como uma pessoa normal. Quando nos conhecemos, ele estava a começar, tinha apenas 16 anos, e ficou essa relação de amizade. Aliás, foi através dele que conheci o Ganso, de quem mais tarde fui padrinho de casamento», acrescenta o médio do Moura AC.

Paulo Henrique Ganso continua no Brasil, ao serviço do São Paulo, mas Bruno Agnello também recebeu uma prenda do internacional canarinho recentemente. «É um grande amigo. Ele veio a Portugal jogar pelo São Paulo na Eusébio Cup, frente ao Benfica. Falei com ele e pedi-lhe uma camisola. Então, ele deixou a própria camisola do jogo, destinada a mim, no hotel onde estavam. Pediu para lavar e entregarem-me. E assim foi», remata o jogador.


Bruno Agnello: «O Moura é agora o meu Barcelona»

Bruno não quer, ainda assim, viver de favores ou a olhar para o seu currículo. Chegou a Portugal no início de 2013, acompanhando Jorge Fucile. Aos 27 anos, procura recuperar espaço após uma grave lesão.

O médio representou a Oliveirense na segunda metade de 2012/13. Contudo, não foi particularmente feliz na equipa que disputava a Liga de Honra. Seguiu para o Chipre, para representar o AEK Kouklion, ficando por lá apenas algumas semanas.

«No início da época fui para o Chipre mas ofereceram-me uma coisa e quando cheguei lá, apresentaram-me outra no contrato. Queriam enrolar-me, fartei-me e voltei para Portugal mas o mercado já estava fechado», explica.

Surgiu uma possibilidade no Alentejo. Bruno Agnello assinou pelo Moura Atlético Clube, que joga no Campeonato Nacional de Seniores. Um desafio a todos os níveis.

«A experiência no Moura está a correr bem.Estou numa equipa séria, é bom para continuar a competir, e sou treinado pelo Joaquim Mendes, que foi um guarda-redes conhecido no futebol português», diz o brasileiro.

Agnello nasceu em Santos, São Paulo, e teve de se habituar a uma nova realidade. «Viver em Moura é um desafio até para quem é daqui. Não há nada para fazer! É só mesmo viver para o futebol. Como se diz, é muito pacato, tranquilo.»

«Estou a tirar um tempo para refazer a minha carreira, dar um passo atrás para seguir em frente. Sei que aqui não tenho muita visibilidade mas não adianta jogar com o currículo. É preciso ter humildade. O Moura é o meu Barcelona nesta altura e, mesmo que saia daqui a uns meses, vai ficar na minha história», remata o jogador.