Nasceram praticamente com uma bola nos pés e cresceram a brincar ao futebol juntos. Ora nas peladas de rua, ora nas escolinhas do Varzim. Geraldo era mais velho um ano e subia de escalão sempre mais cedo. Mesmo assim, e ano sim ano não, dividiam a mesma equipa. Geraldo a trinco, Bruno Alves a central. Pelo meio partilharam sonhos de criança e muitas zangas. «Costumávamos jogar um contra o outro», revela Geraldo.
Faziam mesmo questão. «Às vezes pegávamo-nos, como é normal entre irmãos», conta. «Íamos para casa e gozávamos um com outro, dependendo de quem ganhava. Depois havia picardias e chateávamo-nos. Mas acabava tudo numa boa». As provocações nunca chegavam a um ponto extremo. «Não, não. O Bruno gostava de dar pancada, mas nunca houve nada de grave. Ele sempre foi muito duro, desde miúdo, eu nem por isso».
«Brinco com o Bruno que me vou vingar e o vou pisar todo»
O futebol corria-lhes nas veias desde tenra idade. Muito por influência do pai, o central Washington que fez carreira no Varzim, pelo que uma vida no futebol parecia quase inevitável. «O meu pai levava-nos ao estádio, jogávamos muito na praia com ele e com os meus tios, andávamos sempre com uma bola atrás de nós». As contingências da vida acabaram por os separar. Geraldo foi o primeiro a sair de casa para ir jogar no Benfica, menos de um ano depois Bruno Alves seguiu para o F.C. Porto. Desde então deixaram de partilhar a mesma residência e o mesmo relvado. «Só voltámos a jogar um contra um outro há dois anos, num V. Guimarães-P. Ferreira, mas foi pouco tempo, eu só entrei em campo a quatro ou cinco minutos do fim». Este ano regressaram os dois à Póvoa, partilham o mesmo prédio e muitos jogos de Playstation depois de jantar. Este domingo vão até voltar a encontrar-se num relvado. Desta vez a valer.
Geraldo está recuperado de uma lesão e vai ser titular no P. Ferreira, Bruno Alves ganha uma oportunidade na defesa do F.C. Porto devido ao castigo de Pepe. «Ainda falámos pouco sobre isso porque eu só soube ontem que ele em princípio iria ser titular», frisa o Geraldo. «Mas por telemóvel temos brincado. Digo-lhe que lhe vou dar uns encontrões e umas pisadelas na chuteira». E que lhe vai partir uma perna?, pergunta-se. «Isso já não», ri-se o central pacense. «Ainda somos família, por amor de Deus». Mais a sério, e embora a experiência seja curta, Geraldo garante que dentro de campo tudo deve ficar para trás. «Somos irmãos na mesma, mas cada um vai lutar pelo seu sucesso». Por isso aproveita até para contar pequenos segredos aos avançados da equipa. «Às vezes falo-lhes deste ou daquele ponto fraco do Bruno, mas deixo isso mais para o treinador». Importante, garante, é pontuar. «Poucas equipas que lutem pela permanência o vão fazer, por isso se o conseguirmos fazer já saímos a ganhar».