O Maisfutebol desafiou os treinadores portugueses que trabalham no estrangeiro, em vários pontos do planeta, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:
Leia a apresentação de Bruno Marinho
BRUNO MARINHO, AL HAMRIYA (EAU):
«Meus amigos,
Nas próximas linhas trago-vos mais alguns pormenores da minha vida no Al-Hamriya e nos EAU. Mas há uma história muito particular que quero partilhar convosco.
Já depois de ter escrito a minha última crónica, vivi um episódio maravilhoso com um árbitro. Ele dirigiu dois jogos meus e a minha equipa perdeu um deles e venceu o outro.
Neste que vencemos, o juiz perguntou-me no final da partida o que tinha achado da arbitragem e eu disse-lhe, com todo o respeito, que tinha estado mal. Eu que nem tenho por hábito reclamar com os árbitros...
Mas neste jogo eu tinha fortes motivos. Exibiu cinco cartões amarelos e um vermelho aos meus jogadores, assinalou uma grande penalidade contra nós inexistente e não marcou uma clara a nosso favor, por mão na área. E ainda implicou quase o jogo todo com um jogador meu por ter um penteado a imitar uma crista!
No intervalo do jogo chamou-me a atenção para o corte do jogador, eu disse-lhe que não era pai dele, mas que ia falar com o miúdo para sensibilizá-lo a alterar o seu estiloso penteado. Expulsou-o já depois do apito final.
Um mês depois, vi-o a arbitrar um encontro dos sub-13 no nosso complexo desportivo. Ele viu-me e conversámos um pouco.
Perguntou-me se estava tudo a correr bem e, para surpresa minha, ofereceu-me uma camisola da Federação dos Emirados. Fiquei quase atónito. Disse-lhe que não tinha nada para lhe oferecer, mas que na próxima vez que o encontrasse, iria dar-lhe algo relativo a Portugal, com muito gosto meu.
São atitudes como esta que nos estimulam ainda mais a continuarmos no mundo do futebol. Só espero que, se o referido árbitro dirigir mais algum encontro do Al-Hamriya, não nos prejudique tanto...
Em relação à minha vivência neste ponto do globo, tem sido cada vez mais rica. Eu estou em Sharjah, uma cidade a cerca de 20 minutos do Dubai., mas onde já se nota um modo de vida bem acima do normal.
Esta é uma sociedade multiracial. Frequentemente, cruzamo-nos com pessoas da Índia, Paquistão, Filipinas, Egipto, Brasil, China e, claro, Portugal.
Normalmente, os filipinos e os paquistaneses são aqueles que fazem os trabalhos mais duros, enquanto os egípcios falam muito, mas não fazem grande coisa.
Eles são um pouco o destinatário daquele famoso personagem televisivo, nos Gato Fedorento, que diz eles falam, falam, mas não os vejo a fazer nada. A falar, sem dúvida, lideram o ranking mundial!
Espero nos próximos dias viver histórias igualmente recompensadoras como a que experienciei com o árbitro que teve um gesto que não mais vou esquecer
Um abraço a todos os leitores!!
Bruno Marinho»