«Football, bloody hell.» Aquela frase de Alex Ferguson em 1999 foi mais do que o descomprimir dos eventos dessa noite em Camp Nou, entre Bayern Munique e Manchester United. Foi, em três palavras, o resumo de como a modalidade consegue surpreender e mexer com as emoções de quem assiste. Aquela mesma frase, «football, bloody hell», poderia ser aplicada também no sábado passado, em Hoffenheim. Cabisbaixos pela descida de divisão, os jogadores do Braunschweig levantaram a fronte, pasmados com o que viam e recebiam da bancada. A MF Total falou com quem viveu esse momento inesquecível.



Marcel Correia foi o português de serviço na Rhein-Neckar Arena. Ali cumpriu os últimos 90 minutos na Bundesliga 2013/14. E ali guardou imagens para sempre. Uma grande mancha amarela a cantar, uma menina a entregar uma rosa ao treinador que tinha acabado de falhar o objetivo de jogar o play-off do campeonato, a última esperança do Braunschweig para permanecer entre a elite. O Eintracht voltou para a 2. Bundesliga, onde passou décadas antes deste assomo ao primeiro escalão.   

A primeira ideia do defesa português é de que «aquilo foi um momento muito bonito». E foi, de facto. «Descemos de divisão, mas como se viu os adeptos reagiram de forma espetacular, foi uma coisa muito emocional, nada normal», recordou à
MF Total.

Passados dias daquela derrota em Hoffenheim, Marcel Correia tem agora a distância necessária para tentar entender por que é que os adeptos reagiram assim, quando o habitual seria revolta, indignação e um estado de profunda tristeza, ao contrário do orgulho que aparentavam ter.

«O clube não estava na Bundesliga há 28 anos e já a última época foi uma surpresa. Acho que os adeptos quiseram honrar os nossos jogos, porque ficaram contentes de ter partidas de I liga de novo. E nós fizemos bons jogos, ainda que não tenhamos ganho», indicou o defesa.

Jogadores celebram vitória sobre o Leverkusen, na altura a segunda em 12 jogos da Bundesliga



Para eles, jogadores que estavam no relvado, «foi uma pequena surpresa». Nas imagens, ninguém surge com lágrimas, como é normal nestas ocasiões. Talvez tenha sido aquela tremenda manifestação de apoio que as tenha secado. «Ficámos todos de boca aberta», contou-nos Marcel Correia.

É preciso recuar um pouco na temporada. Coisas raras já se tinham passado em Braunschweig. Um ponto em sete jornadas levaram o treinador Torsten Lieberknecht a ameaçar sair do clube. Os adeptos odiaram a ideia de perder o técnico e foram ao treino apoiar Lieberknecht e jogadores.

É também por tudo isto que Marcel Correia, um português nascido na Alemanha sentencia: «Os nossos adeptos são de Bundesliga, nós infelizmente não.»

Já passaram vários dias desde a confirmação da descida e o defesa do Braunschweig não conseguiu esquecer. «Ainda ando triste, até porque perdemos os últimos cinco jogos e a oportunidade de ultrapassar o Hamburgo. Isso é que dói mais. Embora se possa dizer que a reação dos nossos adeptos nos deu algum conforto.»

Marcel Correia não sabe o que o futuro lhe reserva, até porque tem «um par de equipas interessadas». Ainda assim, tem contrato com o clube por mais um ano e «se ficar, é para subir o mais rápido possível». 

Porque aqueles adeptos merecem, não acha? Se tiver dúvidas, reveja o vídeo. Apostamos que no final soltará um  «football, bloody hell», ou um equivalente qualquer em Português.