Sete épocas passaram desde a última em que um clube da antiga República Democrática Alemã (RDA) marcou presença na principal divisão do futebol germânico reorganizado um ano depois da reunificação da Alemanha em 1990.

Na próxima temporada, o RB Leipzig irá disputar a Bundesliga pondo fim a um hiato começado em 2009 quando o Energie Cottbus desceu à segunda divisão germânica. Curiosamente, foi também nesse mesmo ano que o RB Leipzig foi fundado tornando-se no quinto emblema de antigo território da RDA a jogar no principal escalão germânico depois da queda do NMuro de Berlim, em 1989.

Na primeira Bundesliga reunificada (1991/92), os participante da então extinta Alemanha de Leste foram o Hansa Rostock e o Dínamo Dresden. Ficou estabelecido que os dois primeiros classificados da última Oberliga (principal escalão da DDR que acabaria) seriam os participantes do leste alemão no campeonato reunificado.

O Hansa Rostock desceu logo de divisão, mas voltou a subir uns anos mais tarde e esteve uma década seguida entre os maiores da Alemanha. Entre os altos e baixos, deixou a Bundesliga de vez até hoje em 2008. O Dínamo Dresden fez as primeiras quatro épocas na principal divisão e não mais voltou depois.

Outro clube de Leipzig que não este RB também chegou à Bundesliga. O VfB Leipzig (o Lokomotive do pós-II Guerra Mundial com a divisão da Alemanha e estabelecimento da RDA) conseguiu fazer uma época na Bundesliga da reunificação já com o seu nome de origem em 11993/94. O já referido Cottbus fez dois períodos no principal escalão germânico de três temporadas cada intercalados por outras três na Bundesliga 2.

A queda do Muro de Berlim trouxe a reunificação à Alemanha, os direitos e liberdades iguais para todos os alemães, mas os clubes da extinta RDA não sobreviveram à mudança. Apoiados precisamente por um regime autoritário que tinha tido um fim, também eles foram subsumidos na nova realidade do país uno. Os clubes mais fortes da Alemanha fizeram sentir o seu poder desportivo e financeiro (a ordem dos fatores é indiferente).

Suportados por uma política de Estado, financiados pelos ramos produtivos do país – o D. Dresden estava ligado à polícia política da RDA (a Stasi), assim como o Lokomotive Leipzig estava (como o nome indicava) ligado à indústria ferroviária, por exemplo – os clubes da extinta Alemanha de Leste ainda fizeram brilharetes na Europa.

O Magdeburgo ganhou uma Taça das Taças (1974); o Carl Zeiss Jena (1981) e o Lokomotive 1987) foram à final da prova. Mas com a queda do Muro, o fim dos apoios com que viviam, a inexistência de uma gestão adequada à nova realidade Europeia de que passaram a fazer parte deixaram os clubes da RDA à mercê dos mais poderosos do país. Um mercado de transferências de jogadores a funcionar tem como consequência a ida dos melhores para os emblemas mais poderosos.

O (antigo) leste do país reaparece agora no Bundesliga na forma em que o dito ocidente aprendeu a viver no que respeita ao dito mercado e à sua economia. O RasenBallsport Leipzig recuperou o perfume de leste depois de modernizá-lo e vai agora servi-lo ao país em horário nobre. Sob a forma – deliberada – de RB Leipzig: o RB são as iniciais da Red Bull, a multinacional bebida energética que detém o clube.

A extensão dos domínios desportivos da marca dos touros vermelhos vai desde os clubes de futebol até à Fórmula 1 passando pelo hóquei no gelo (com mais do que um emblema em cada modalidade). O investimento é forte e fica à espera dos resultados desportivos que também engrandecerão a multinacional casa mãe.

Com o RB Leipzig também foi assim – apesar de alguma oposição na Alemanha. Em 2009, a marca de bebidas comprou a licença do SSV Markranstädt e lançou-se à competição no futebol germânico. Começou no quinto escalão do país. Em sete anos está n principal divisão. Por lá já passaram jovens jogadores como Joshua Kimmich (do Bayern Munique, agora com 21) ou outros como Rani Khedira (de 22 anos), irmão do internacional germânico Sami Khedira.

Os investimentos de milhões na equipa de futebol do RB Leipzig têm sido compensados com resultados desportivos acima das expectativas em tão curto período de tempo. Até onde vai o parente alemão do atual tricampeão austríaco Red Bull Salzburg na Bundesliga germânica é o que se vai ver. Em sete anos de existência já lá chegou.

A nível desportivo foi uma limpeza; a nível administrativo não foi assim tão fácil. O RB Leipzig deparou-se com imposições da Bundesliga para ter a licença para jogar no segundo escalão da Alemanha. O nome de uma marca (Reb Bull) já não pôde ser o do clube na fundação porque os estatutos da federação alemã não o permitiram...

A Liga alemã obrigou ainda a que o emblema fosse redesenhado para se parecer menos com o da Red Bull e que a administração do club fosse independentemente da empresa mãe. Licença dada, promoção conseguida. O RB Leipzig passou a jogar no antigo Zentrastadion, o maior da antiga Alemanha de Leste e o único dessa região a ter sido utilizado no Mundial 2006. Com cerca de 43 mil lugares, desde 2010 que se chama Red Bull Arena. Bundesliga, aí estão eles