A morte de Fehér deu a conhecer uma faceta de Jose António Camacho que só os familiares mais próximos do espanhol conheciam. O homem de personalidade forte e ar rígido desmoronou e deixou a tristeza apoderar-se dele. Um ano após a morte do jogador húngaro, o ex-treinador do Benfica recordou ao Maisfutebol a trágica noite de 25 de Janeiro de 2004 e as memórias que guarda do seu «ex-pupilo».
«Foi um acontecimento muito difícil, será difícil esquecê-lo, por mais anos que viva. Não é normal um jogador com a juventude do Fehér morrer no terreno de jogo. Não sei o que me espera ainda na minha carreira, mas sei que Fehér estará para sempre na minha vida», garante.
Camacho admite que naquela trágica noite foi ele próprio. O cargo de treinador do Benfica passou para segundo plano. Sentiu como todos a dor da perda: «A personalidade de cada um nesse momento não conta. Todos os jogadores e técnicos tiveram o mesmo comportamento pois situações como aquela não se prevêem. Não se pode dizer que se vai ter este ou aquele comportamento. Todos sofreram muito com a morte do Fehér e não havia como não expressá-lo.»
Um ano após a morte, Camacho diz ao Maisfutebol o que mais recorda de Miklos Fehér: «Era muito forte e aplicado em tudo. Dava sempre o máximo nos treinos e era um jogador de futebol que tinha muita vida.»
«Viagem até Lisboa foi a mais difícil da minha carreira»
Os minutos depois da queda de Miklos Fehér no relvado do Estádio D. Afonso Henriques foram de puro desespero. As informações eram contraditórias e ninguém tinha certezas. Camacho revive a ocasião em que foi anunciada a morte do eterno camisola 29 do Benfica: «Foi muito difícil. No estádio uns diziam umas coisas e outros, outras. Não havia certezas. Até ao momento em que recebemos a notícia da morte do Fehér havia a esperança de todos que a situação podia não ser tão grave como prevíamos. No hospital os médicos anunciaram que não havia esperança e depois na viagem de autocarro para Lisboa recebi o telefonema a dizer que não havia nada a fazer.»
Camacho regressou a Madrid, mas as ligações a Portugal ficaram bem vincadas. O ex-treinador do Benfica relembra a dura viagem de autocarro de Guimarães até Lisboa. Esse trajecto deixou uma marca profunda: «Até Lisboa foi muito, muito complicado. Foi a viagem mais difícil da minha carreira. É impossível comparar com uma viagem que se faz quando se perde um jogo ou um título. Qualquer destas situações tu podes mudar no futuro, com o teu trabalho. A morte do Fehér não depende em nada de ti. O Fehér não terá mais nenhum êxito, nem nenhuma derrota. Ele morreu num terreno de jogo onde nunca devia morrer um desportista e isso é impossível apagar.»
Como treinador coube a Camacho ajudar o plantel a superar a perda do companheiro húngaro. O espanhol salienta que a tarefa foi facilitada pela força demonstrada pelos jogadores: «O balneário do Benfica manteve-se unido. O Fehér esteve sempre presente no grupo e a conquista da Taça de Portugal foi exemplo disso mesmo. Antes de cada jogo fazíamos sempre o grito em memória dele. Com a qualidade humana de todos o balneário esteve à altura da tragédia e isso possibilitou tornou menos complicado ultrapassar aquele momento difícil.»