CAMINHOS DE PORTUGAL é uma nova rubrica do jornal Maisfutebol que visita o dia-a-dia de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

AMORA FUTEBOL CLUBE, III DIVISÃO

Nada apaga os feitos cravados na história. Nem a relva amarelada, os resultados dececionantes ou a despromoção anunciada. Nada. O Amora Futebol Clube resiste à crueza da crise financeira, aos diferendos com a autarquia e à luta desenfreada pelo poder político no concelho.

O clube suporta a privação do sucesso e sobrevive apoiado na boa vontade, no sentido de dever e no otimismo anunciado pelas eleições a realizar em junho. Estamos a falar de um emblema com passagens relevantes pela I Divisão Nacional (1980 a 1983) e palco de lançamento de alguns dos grandes nomes do futebol indígena.

Diamantino Miranda, Jorge Plácido, Jorge Jesus, Vítor Batista, Jaime Mercês e Rui Maside, para falar só nos últimos 30 anos, vestiram a garbosa camisola azul. Os tempos mudaram, o Amora caiu nos escalões não profissionais e já conhece a sentença para o próximo ano: regresso ao distrital da AF Setúbal.

Outra notícia, porém, devolveu a instituição da margem sul do Tejo à ribalta. Em janeiro, a previsão de Paulo Futre bateu de frente com a realidade e cinco jogadores chineses chegaram ao velhinho Estádio da Medideira.

O charter aterrou na Amora. O Maisfutebol, curioso, foi à procura de histórias num clube onde a história é a maior prova de vida.

Com um tabuleiro tático tudo é possível

Ruan Yang, Xiufu Wang, Tianzi Jia, Shang Jin e Wang Meng. Cinco nomes surgidos repentinamente no bloco estratégico de José Meireles. O treinador teve, sem contar, um dos maiores desafios da sua carreira: fazer com que cinco absolutos estranhos se tornassem úteis.

«Jogar é comunicar e a barreira linguística era evidente. Mas, enfim, quem tem um tabuleiro tático faz-se entender e a integração deles até está a correr bem», diz ao nosso jornal. Tó Loureiro, capitão da equipa e um dos mais antigo, concorda com o técnico.

«Um deles fala um pouco inglês e vai ajudando. Dois, principalmente, têm muita qualidade e cultura tática. Já estamos com eles de vez em quando fora dos treinos e dos jogos», conta o defesa de 29 anos, muito esclarecido no discurso.

E quem são, afinal, os melhores dos chineses? «O Ruan Yang estava no Sporting B e é muito interessante. Pode vir a ser um caso sério se perceber que treinar é tão importante como jogar», considera José Meireles.

«O Tianzi Jia já fez um golo e o Xiufu Wang já jogou também. No primeiro dia deles perdi algum cabelo a pensar na melhor forma de aproveitá-los, confesso», explica, a sorrir, o treinador do Amora.

Treinar sim, mas só quando não chove

O presente do Amora não é simples. Nem fácil. As infraestruturas são obsoletas, a cidade está de costas voltadas e só alguns adeptos aguentam «firmes e hirtos» no apoio ao clube. A equipa lutou pela presença na fase de subida à II Divisão (seis primeiros) mas a derrota na Lourinhã acabou com o desejo.

«Resta-nos tentar ficar em 7º ou 8º na fase final, de forma a garantir a participação na próxima edição da Taça de Portugal. A reformulação dos quadros competitivos a isto nos obriga», lamenta Tó Loureiro.

O último lamento elucida as dificuldades do Amora. A autarquia cedeu o Complexo Desportivo Carla Sacramento para os treinos do plantel, mas só nos dias em que não chove! «Parece impossível, mas é verdade. Como as camadas jovens do Benfica também treinam lá, têm medo que estraguemos o relvado».

Imagens do Amora FC no Estádio da Medideira: