O rumor de festança correu o Barreiro. Vinha aí o bicho papão, o AC Milan. Algazarra à porta do Estádio Alfredo de Silva, cheiro a Natal, 1 de dezembro de 1965. Quadra de festança e devoção. Malgas de vinho e copos de fino, bifanas e sandes de presunto, festa popular na Taça das Cidades com Feira.
Os demónios
rossoneri traziam Cesare Maldini, Giovani Trapattoni, Gianni Rivera e Amarildo. A CUF respondia com Fernando Oliveira, Abalroado, Mário João, Neto, Capitão-Mor e Monteiro.
O menino Conhé ainda não era o dono da baliza. Foi ao estádio e viu tudo boquiaberto. O Milan espatifou-se no Lavradio: 2-0. «Golos do Fernando Oliveira e do Abalroado de penálti», diz, de cor, ao
Maisfutebol o atual treinador do GD Fabril.
«O estádio estava cheio, a abarrotar. Vencemos o Milan com todo o mérito e só fomos eliminados no jogo de desempate, o terceiro jogo», conta Conhé, membro de algumas das maiores equipas de futebol da histórica CUF.
Não se pense, ainda assim, que o Milan foi o mais temível grupo de futebolistas a pisar a relva do Alfredo da Silva. «Não, esse foi o Kaiserslautern, da Alemanha», apresta-se a corrigir Conhé. «Eram uns diabos de vermelho! Enormes, loiros, poderosos».
A escassez de imagens televisivas convidava ao exagero. Na véspera do jogo, a CUF pensava ter pela frente monstros cuidadosamente criados em laboratório. «Falava-se da Alemanha e as pessoas ainda estremeciam. Lembro-me de ir espreitar ao balneário deles, para confirmar que eram mesmo humanos».
25 de outubro de 1972. O temor fraquejou as pernas e a CUF perdeu 1-3 em casa. Manuel Fernandes fez o único golo. «Aquilo era tudo da cabeça. Em Kaiserslautern vencemos por um a zero [golo de Eduardo]».
É esta CUF que Conhé quer incutir no Fabril. Afinal, poucos como ele sabem o que é nascer dentro do clube. Literalmente. «Nasci no posto médico do clube, dentro do estádio. Vi o clube 22 anos seguidos na I Divisão. Vi o Cubillas a estrear-se em Portugal contra nós. Vi o Benfica e o Sporting a saírem mudos e quedos de cá».
Não há como negar. A CUF era um grande, poderoso. Conhé sonha fazer do GD Fabril um fiel depositário desses mitos, contos arrepiantes.
«Temos um bom estádio, um campo de treinos pelado, quatro sintéticos e um pavilhão. O clube começa a dar passos seguros. O plantel é jovem, amador, treina às 19h30. Tenho empregados de balcão, comerciantes, professores de educação física e vou fazer deles bons futebolistas», refere Conhé.
Rúben Luís, um leão a despontar no Fabril
Na equipa técnica do Fabril está Marco Tábuas. O antigo guarda-redes do V. Setúbal chama a atenção para um valor a despontar nas redes barreirenses. «O Rúben Luís foi três vezes campeão nacional no Sporting. Está a fazer uma época excecional», adverte Tábuas.
«Os jogadores sentem a importância da CUF, a responsabilidade de vestir esta camisola. No Restelo vamos equilibrar o mais possível e esperar que eles facilitem um pouco. Nestes jogos isso pode acontecer», diz o adjunto de Conhé ao nosso jornal.
Para Marco Tábuas, o Fabril já é um clube apetecível para trabalhar. «É cumpridor ambicioso. O que o clube promete, o clube paga», sintetiza.
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