CAMINHOS DE PORTUGAL é uma nova rubrica do jornal Maisfutebol que visita o dia-a-dia de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

CLUBE DESPORTIVO ESTARREJA, III DIVISÃO

A folia dos gingões, os carros alegóricos empestados de crítica social, os ritmos do samba em peles de galinha e a devassa entusiasmada nas máscaras e cortejos. Quem diria que o Carnaval pode ser o principal problema para uma equipa de futebol?

Em Estarreja, urbe de aprumada tradição perante a propaganda pagã, é mesmo assim. Líder seguro na Série C da III Divisão, o clube da cidade pode orgulhar-se de uma época a todos os títulos notável.

O Clube Desportivo Estarreja tem a melhor defesa de todos os campeonatos nacionais, apenas com seis golos sofridos, e só duas derrotas em 18 jornadas. O Maisfutebol confirmou a pujança da coletividade, reerguida das cinzas nos últimos anos, e testemunhou o maior medo do treinador Sandro Botte.

O Carnaval, pois claro. «A cidade adora e vive a festa como ninguém. As pessoas do clube também. O pior é que, normalmente, os resultados da equipa ressentem-se», explica, divertido, ao nosso jornal.

Na última jornada, realizada precisamente em dia de Domingo Gordo, a maldição quase se materializava. «Somos líderes, jogámos em casa e estávamos empatados ao intervalo. Nas bancadas já havia as bocas do costume: lá vem o Carnaval, lá vai o Estarreja perder pontos!

O Estarreja lá se segurou e derrotou o Aguiar da Beira por 1-0. Mais um triunfo, mais uma jornada sem permitir golos ao oponente. «É muito complicado gerir tudo neste período de festa», assume Sandro Botte. «Ainda por cima tenho vários jogadores de Ovar e lá também se vibra com o Carnaval».

Três mil adeptos em casa nos jogos da III Divisão

Diversão à parte, o Clube Desportivo Estarreja é cada vez mais um embaixador de excelência da região. Hugo Justiça, defesa e voz autorizada do grupo, fala de um clube «a viver bem» e a contar «com o apoio de quase três mil adeptos» nos jogos em casa. Um luxo.

«O clube paga certinho e nós não queremos deixar ninguém ficar mal. Treinamos sempre às 19 horas, depois de um dia de trabalho, e folgamos apenas uma vez por semana», explica o jogador do CDE.

A «forte aposta na formação» e o «orçamento equilibrado» permite sobreviver sem as aflições vistas noutros lados. Para Sandro Botte estão reunidas as condições necessárias para a subida de divisão.

«Com a reformulação dos quadros competitivos só podemos pensar em ascender à II Divisão, que é o lugar certo para o Estarreja. Do terceiro para baixo descem todos aos regionais», sublinha o treinador da equipa.

«Os defesas juntam-se e combinam tudo entre eles»

Este Estarreja é a «prova viva» da existência do futebol de qualidades nos escalões mais escondidos. «Apostamos na posse, na inteligência e nos lances de bola parada», pormenoriza Hugo Justiça, um dos mais utilizados da equipa.

E os seis golos sofridos? Como é possível um registo destes num campeonato tão nivelado? «Bem, os defesas juntam-se antes dos jogos e combinamos entre nós o que temos a fazer», revela Justiça. O treinador dá mais dados.

«O processo defensivo é trabalhado com todos, até com os avançados. Segredos não há, mas a chave tem estado nos poucos erros e em não arriscar em zonas proibidas».

Em resumo, o Estarreja luta por dois objetivos claros: subir de divisão e ser a melhor defesa de todos os campeonatos, para no fim «o plantel fazer um Carnaval muito próprio e passear pela cidade numa camioneta de caixa aberta».

Assim se vencem os piores receios.

Festa no balneário do CD Estarreja: