CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do Maisfutebol que visita passado e presente de clubes dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção.
CAMINHOS DE PORTUGAL: todas as edições
BERÇO SPORT CLUBE: AF BRAGA
«Vai fundar um clube em 2016, somar três subidas consecutivas e, em 2019, chegar ao Campeonato de Portugal. Tudo isto em três anos.»
Se lhe tivessem dito isto a si, caro leitor? Acreditaria?
Pois bem, esta é a – para já ainda – curta história do Berço Sport Clube, emblema de Guimarães: nasceu em 2016 e, volvidas apenas três primaveras, já chegou aos campeonatos nacionais do nosso futebol, mais concretamente ao Campeonato de Portugal.
Recém-nascido e, curiosamente, ainda sem um “berço” para crescer, os primeiros passos da formação minhota têm sido dados em casas emprestadas, mas nem isso atrasa o crescimento de uma equipa que só sabe ganhar.
Ao Maisfutebol, o presidente do clube, Joaquim Martins, faz um retrato destes três anos de vitórias e revela as ambições para o futuro, já com mais subidas no horizonte.
«A primeira vez que o projeto foi pensado foi há praticamente dez anos. Optámos por não o criar nessa altura, mas a ideia nunca nos abandonou. Quando decidimos que era o momento, apenas ajustámos o projeto à realidade, porque o futebol, enquanto negócio, tem vindo a sofrer alterações profundas todos os anos», começou por dizer.
O sucesso não demorou muito a aparecer, mas tem vários ingredientes a alimentá-lo: «Diariamente tudo passa, por exemplo, por isto: cultura de vitória, exigência máxima, responsabilidade, bom senso, confiança nas pessoas, ambição responsável e visão estratégica.»
«Tudo isto, que no meu entender se deve praticar ao mais alto nível, tem vindo a fazer parte do nosso trabalho desde a fundação e ano após ano apenas é ajustado à realidade e exigência que a competição nos obriga.»
Além destas máximas, há ainda outro fator que desequilibra a favor do Berço: treinadores e jogadores.
«Acrescento ainda a qualidade futebolística dos atletas e o trabalho das equipas técnicas. Nós demos as condições e nunca falhámos com nada, mas eles são estupendos. O grupo do primeiro ano foi genuíno, o do segundo foi sofredor e o deste ano é arrebatador, não deixa ninguém indiferente.»
Num percurso quase sempre trilhado por vitórias, Joaquim tem até dificuldades em enumerar os maiores obstáculos encontrados até ao momento, até porque o emblema minhoto vê nos «problemas, soluções».
«Não temos técnicos que se lamentam, nem jogadores que se queixam por não conseguirem ter um campo só para eles. Conseguimos criar grupos tão bons que as dificuldades nunca nos deixaram marcas.»
«Nunca nos escondemos a ver o que ia dar»
Três subidas em três anos não é, definitivamente, para todos, mas o líder do Berço não esconde que este sucesso sempre esteve no seu horizonte.
«Se esperava estas três subidas? Não se trata de esperar. A meta era essa e foi assumida desde a primeira hora. Nunca nos escondemos a dizer que íamos ver o que ia dar. Não. Dissemos: "queremos subir." Pensámos como seria possível, traçámos o plano e cumprimos. Estamos nos nacionais e com números que fazem do Berço uma das melhoras equipas da história das seis edições do Pró Nacional de Braga. Não há registo em Portugal de um clube que se fundou e subiu consecutivamente três anos até aos nacionais.»
Embalado por este percurso vencedor, Joaquim assume, sem rodeios, que atingir a II Liga é um objetivo. Mesmo que demore mais tempo: «A II Liga é um objetivo. Se será já no próximo ano, vamos esperar. Temos uma época para acabar e há troféus para conquistar [Taça da AF Braga e a Taça dos Campeões do Minho].»
Vizinho do Vitória de Guimarães, um dos clubes portugueses com uma massa associativa mais característica, o Berço não tem uma grande legião de adeptos, até pela juventude que apresenta, mas desperta o interesse dos mais curiosos.
«Tem sido uma agradável surpresa, mas friamente até admito que não seja assim tanto. Afinal, estamos perante um projeto vencedor e é natural que gere interesse e que as pessoas venham assistir aos nossos jogos. Por outro lado, Guimarães respira desporto e é apaixonada por futebol. O Vitória [de Guimarães] move o concelho e não deixa ninguém indiferente. Nós, o que desejamos é que os sócios de todos os clubes do concelho sejam nossos adeptos. Não estamos identificados com uma freguesia ou vila de Guimarães, somos um clube aberto ao concelho e que na próxima época, tal como V. Guimarães e Moreirense, disputará uma competição nacional», refere.
E essa massa associativa desejada, terá uma casa própria? «Teremos na altura certa e não tenho dúvidas que vamos ter o apoio da autarquia. O senhor presidente Dr. Domingos Bragança já elogiou o nosso projeto, reconhecendo que é um exemplo de quem faz muito com pouco, e acredito que não nos deixará sem teto.»
«Não contava que um clube que milita numa divisão distrital fosse um clube com uma mentalidade tão profissional»
Aos 26 anos, Hélder Mota chegou ao Berço no início desta época para capitanear a equipa neste último degrau antes de chegar ao tão ambicionado Campeonato de Portugal.
Já com alguns emblemas no currículo – fez formação no Vitória de Guimarães e fez parte do plantel do Penafiel que disputou a II Liga na temporada de 13/14 – o médio admite que a primeira impressão quando chegou ao clube foi de surpresa.
«Foi uma surpresa para mim quando comecei a época no Berço porque não contava que um clube que milita numa divisão distrital fosse um clube com uma mentalidade tão profissional. Desde cedo percebi que não estava num clube qualquer, estava num clube que com dois anos de existência subiu duas vezes. As pessoas que estão à frente do clube não nos falham com nada, por isso nós fazemos de tudo para não falhar com eles.»
Hélder recusa-se a fazer previsões em relação ao próximo ano, mas afirma perentoriamente que o plantel sempre pensou na subida esta temporada: «Confesso que sempre quisemos a subida, sabíamos desde cedo que tínhamos imensa qualidade para alcançá-la. Além disso, os objetivos do clube são muito claros e passam por vencer tudo o que há para vencer, a mentalidade é essa.»
Hélder confessa que o apoio ao nível de adeptos não é muito, e fez-se à base dos familiares dos jogadores, mas acredita que a situação possa mudar no futuro.
«Em Guimarães as pessoas são apaixonadíssimas pelo Vitória, existe aquela mentalidade de que se se nasce em Guimarães tem de se ser do Vitória. Mas também se respira a cidade e tudo o que nela está inserido, por isso acredito que com o passar do tempo as pessoas vão começar a olhar para o Berço com outros olhos e claro vão começar a apoiar o clube por ser da cidade», atira.