Artigo original: 25-01-2018 10:28

Caminhos de Portugal é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção.

Atlético Clube de Croca – série 2 da 2.ª Divisão da AF Porto

Vivem-se dias de recomeço em Croca. Derrota após derrota, sem qualquer ponto somado esta época no campeonato distrital. Em 15 jornadas, outras tantas derrotas. Zero pontos, nove golos marcados e 49 sofridos, 18.º e último lugar na classificação.

Contudo, esta equipa do concelho de Penafiel já alcançou a maior vitória no início da época, nos seus 37 anos de existência. O regresso ao futebol distrital, nove anos depois de um súbito adeus.

Fundado a 14 de junho de 1981, o clube viveu, no fim da temporada 2008/09, um difícil capítulo na sua história. Esteve perto da subida. Mas tal não aconteceu e o futebol sénior findou.

«O Croca, se vencesse na última jornada, subia de divisão. Foi o jogo com o Gandra. Ao Gandra bastava-lhe um empate. E o jogo ficou 3-3. Houve problemas, chatices. Coisas extrafutebol. As pessoas que estavam à frente do Croca ficaram chateadas e abandonaram. Outras pessoas tomaram conta, mas só com camadas jovens», recorda Augusto Ribeiro, atual treinador e então jogador.

De ano em ano, as coisas foram «declinando». Motivo suficiente para Alfredo Magalhães, antigo jogador do clube, colocar mãos à obra. Foi treinador nos escalões jovens, presidente da Assembleia Geral e agarrou a liderança do Croca a 20 de agosto de 2017. «Notei que havia alguma passividade em termos de objetivos. Entendi que o clube não podia fechar as portas», começa por dizer, ao Maisfutebol.

Não conseguiu suster camadas jovens que migraram para clubes vizinhos, mas a divulgação em redes sociais e panfletos, ainda que em cima da hora, atraiu juventude e antigos atletas para reavivar a equipa principal. «Cheguei a ter à volta de 40 pessoas a treinar. Apareceu de tudo (risos) e tentei escolher o melhor», atira Augusto, 43 anos. «Formámos uma equipa calma, tranquila, na base de um grupo de amigos. Ainda não pontuámos, mas em nada tem abalado o nosso projeto», refere Alfredo.

Acima disso, melhorar infraestruturas, condições de segurança e ter outras modalidades são os principais objetivos. Desporto motorizado está já no horizonte.

Alfredo Magalhães discursa aos adeptos do AC Croca no jantar de Natal

«É um ano zero, nem que seja de zero pontos»

Alfredo Magalhães está à frente do Croca há cinco meses e acredita que o clube «está a crescer de dia para dia». Esta época é, sobretudo, um começar do zero.

«As minhas palavras no balneário foram sempre simples: o clube não tem dinheiro para vos pagar. Na fase inicial, muitos [jogadores] ajudaram a pagar inscrições, dinheiro que já lhes foi devolvido. Este é um ano zero, nem que seja de zero pontos. Neste momento, os resultados são o menos importante», atira.

O plantel, jovem e inexperiente, conta três jogadores acima dos 30 anos. Os restantes, cerca de 20, têm entre 17 e 24 anos. «Os atletas estão satisfeitos, embora tristes porque há resultados em que somos goleados, apesar de conseguirmos boas exibições. Têm surgido lesões que resultam de alguns atletas não estarem em atividade de forma continuada», refere o dirigente, apoiado pelo treinador, que acredita em pontuar sempre no jogo seguinte. «Não é fácil, a maior parte são miúdos de 17, 18, 19 anos, sem experiência. Jogo a jogo, tentar pontuar». Pelo meio, preparar o Croca para outros objetivos. «Estamos a trabalhar esta época, já para a próxima. Já se falou com atletas que querem voltar», prossegue.

Em Croca, acredita-se na evolução sustentada. Estar no desporto pelo desporto. Por vidas melhores. Os resultados ficam para depois. «Muitos dos jovens, não fosse a atividade desportiva, a sua ocupação era em áreas um pouco duvidosas da sociedade. Este ano, nunca nos preocupámos em dizer aos jogadores: “Meus amigos, vamos ter necessariamente de ganhar”», vinca Alfredo.

6-1, 2-6, 2-4, 5-0, 4-1… Mesmo assim, como se vive com derrota após goleada?

«Além do resultado desportivo, estamos aqui pelo fair-play. Temos zero pontos, mas também zero castigos. A motivação está lá. Acabamos o jogo com sentimento de que fizemos o melhor que soubemos. De derrota em derrota até à vitória final», ilustra o responsável.

Um presidente massagista

Este dirigente, de Croca natural, é também o massagista da equipa. Além disso, trabalha como oficial da Polícia Marítima, em Caminha. E dá aulas e estuda: é professor nas horas vagas em Viana do Castelo e Aveiro. Isto enquanto tira o curso de Medicina Tradicional Chinesa.

Entre tamanhas funções e dedicação ao Croca, Alfredo acredita que a equipa «não é a pior neste momento no campeonato». Lança as bases do futuro numa época que serve de «integração e ocupação» social. Tudo vai aos poucos.

«Temos consciência que, para o ano, vamos ter uma equipa mais robusta. As instalações estão a ser melhoradas e nota-se que os sócios do clube, cerca de 40, estão contentes com o nosso andamento», refere.

Em campo, segue-se o Paços de Gaiolo. Em Croca, a bola volta a rolar domingo, com um objetivo bem diferente dos demais. «Enquanto para uns o foco é o primeiro lugar, nós o primeiro ponto (risos)». 

AC Croca-Lustosa, jogo que terminou com derrota de 2-0 para os penafidelenses