CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

Em 1990, estava o Recreio de Águeda na II Divisão Nacional, chega ao clube um defesa versátil, que tanto pode alinhar no miolo ou na direita. Falamos de Luís Castro. Esse mesmo, o atual treinador do FC Porto.

Conhecido então apenas pelo apelido, Castro chegou ao Águeda com estatuto de estrela. Mas só no currículo. Afinal, era um jogador com experiência de I Divisão, numa equipa onde a mesma não abundava. Um reforço importante para o grupo orientado por António Fidalgo e, mais tarde, Mário Wilson.

Nessa equipa estava, também, Carmindo Dias. «Era o meu primeiro ou segundo ano de sénior. O Castro vinha da I Divisão e demonstrou logo a pessoa que era e ainda é hoje. Uma humildade extrema, fora do vulgar. Era um amigo, um companheiro com quem todos podiam falar porque estava sempre ao dispor», conta o ex-jogador, em conversa com o Maisfutebol.

O relembrar do Recreio de Águeda, um dos clubes que passaram pela elite portuguesa e estão, hoje em dia, em palcos menores, é desculpa importante para conhecer um pouco mais sobre o técnico do FC Porto, o homem que tem a missão de levar a nau a bom porto depois do turbilhão que foi a passagem de Paulo Fonseca pelo clube.

Carmindo Dias é, assim, um cicerone de luxo pelas memórias do técnico. «Ainda ontem estive na casa dele. Vamos falando praticamente dia sim, dia não», conta.

A relação próxima vem dos tempos em que eram colegas de equipa. Luís Castro jogou no Águeda entre 1990 e 1997, encerrando aí a sua carreira como jogador. Dois anos mais tarde estava a treinar a equipa, depois de uma curta passagem pelos infantis. «O trabalho que fez com os miúdos foi tão bom que um ano depois estava nos seniores», frisa Carmindo Dias.

Estávamos em 1998. Luís Castro estaria ainda longe de imaginar que, 16 anos depois, seria treinador do FC Porto.

O dia em que Pedro Paulo deixou Luís Castro de gatas

Águeda continua a ser a cidade de eleição de Luís Castro. Nasceu em Vila Real, trabalha no Porto mas continua a morar em Águeda, onde a esposa trabalha como professora também.

A cidade acolheu-o e moldou-o. Castro cresceu mas não esqueceu as raízes.

«O que aconteceu ao Castro não é de admirar. Foi sempre uma pessoa de grandes projetos. Só não ia mais longe se não lhe dessem oportunidades. Ele sonhava com isto já naquela altura. Olhe, eu nem sou portista, mas agora sou um bocadinho por causa dele», atira Carmindo Dias entre risos.

No campo, Luís Castro era o chamado «defesa raçudo», nas palavras do amigo. Há um jogo, aliás, que continua na memória de todos. «Costumámos brincar muito com ele por causa de um jogo contra o Benfica de Castelo Branco, que tinha um jogador que era o Pedro Paulo, que era um craque na II Divisão. Era um extremo muito difícil de marcar. O Castro já sabia o que ia ter pela frente e até andou de gatas nesse jogo! Ainda hoje brincámos com isso», conta.

Ser treinador foi sempre uma vontade assumida, apesar de haver um problema: as derrotas. «Ui…Nem me diga nada», ri Carmindo Dias.

«Lida mesmo muito mal. Mostra, até, uma pessoa que ele não é. Nós, que somos amigos, até temos de ter cuidado e ver qual é a melhor forma de falar com ele nessas alturas. Gosta muito de ganhar. Só pensa em ganhar, ganhar, ganhar», conta.

Aliás, o problema muitas vezes até começa…antes dos jogos. E não é de agora. «Quanto estava no Águeda nem almoçava aos domingos por causa do stress do jogo. Tudo o que comesse ia fazer-lhe mal. Bebia um chá, comia uma torrada e nada mais», revela.

Este ano, Luís Castro sofreu uma indisposição no jogo do FC Porto B com o Leixões que o tirou do banco. A explicação oficial foi uma «cólica renal», mas Carmindo Dias acha que o antigo problema das refeições voltou a surgir. «Comer em dias de jogo sempre foi um problema para ele», completa.




«Ele queria que as coisas tivessem corrido bem a Fonseca»

A vida de Luís Castro há muito que o afastou das ambições modestas do Recreio de Águeda. O presente é o FC Porto onde ganhar é a palavra do dia. A missão, garante Carmindo Dias, não foi desejada ardentemente.

«Quando as coisas começaram a ficar complicadas no FC Porto dizíamos-lhe que ainda ia ser ele a pegar na equipa, mas ele sempre recusou a ideia. Dizia: Não é isso que eu quero. Quero que o Paulo fique, que tenha sucesso. Eu estou bem na minha equipa», conta, noutro evidente sinal de humildade.

O amigo tem conversado com um homem confiante desde que assumiu o FC Porto. E satisfeito com o trabalho diário. «Só fala bem dos jogadores. Por vezes temos curiosidade, fazemos uma ou outra pergunta e ele diz o melhor daquilo. Mas tem a consciência que vai ser muito difícil. Sempre teve os pés bem assentes na terra», diz.

«Ele adora aquilo e é sempre muito cauteloso com o que nos diz. Vai respondendo mas é muito cauteloso. Mas uma coisa é certa: quer ganhar. Isso vê-se nas expressões dele durante o jogo. Nota-se a vontade e o querer», conclui. 

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