CAMINHOS DE PORTUGAL é uma rubrica do jornal Maisfutebol que visita passado e presente de determinado clube dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção. Percorra connosco estes CAMINHOS DE PORTUGAL.

Há 64 anos, na época 50/51, chegou ao escalão mais alto do futebol português o Oriental, um clube formado em 1946 por quatro rivais: Chelas Futebol Clube, Marvilense Futebol Clube e Grupo Desportivo «Os Fósforos». A recém-promovida formação da Azinhaga dos Alfinetes conseguiu nessa época rivalizar com os grandes e terminou em 5º lugar.



Seguiram-se subidas e descidas, e um interregno de 15 anos, até que, em 1973, o Oriental consegue a última subida (até agora) à primeira divisão. Durante dois anos voltou a estar entre os grandes, mas voltaria a descer em 1975, não mais tendo conseguido lá chegar.

40 anos volvidos, o histórico Oriental está muito bem posicionado a lutar pela subida no Campeonato Nacional de Seniores, com um plantel constituído maioritariamente por jogadores portugueses, com um média de idades de 24 anos, e vários com já alguns anos de Oriental. O percurso tem um destino bem definido: voltar à elite do futebol nacional.

Um caminho de passos seguros

José Fernando Nabais, há 12 anos à frente dos destinos da formação grená, fala de «uma caminhada que ainda vai a meio» e garante que o clube não está «obcecado pela subida». «Os nossos objetivos são maiores do que isso. Este é um clube que nasceu forte, que nasceu da junção de quatro rivais, e que esteve entre os grandes na I Divisão. Nós devemos, a quem esteve na génese deste clube, cumprir a história e levar o Oriental de novo à I Liga», explica.

O caminho ainda é longo, mas a direção não quer dar passos em falso. «Quando assumi a direção, o clube estava numa situação financeira catastrófica. Neste momento, não devemos nada a ninguém. Nem a jogadores, nem a funcionários, nem a fornecedores. O nosso passivo é inexistente e isso também faz parte deste fortalecimento que o clube tem tido, e que se reflete nos resultados desportivos», garante o presidente.

«Temos vários jogadores que são estudantes universitários, há jogadores casados, com filhos, e essa estabilidade financeira permite-lhes ter estabilidade emocional na vida pessoal para realizarem os seus projetos. Sabem que o que foi acertado no início da época será cumprido na data certa», explica o presidente, admitindo que, para conservar as contas do clube sempre equilibradas, é preciso resistir muito à tentação do mercado. «Todos os anos sou assediado por jogadores, empresários, e até pela equipa técnica, para contratar jogadores que, mesmo podendo ser uma mais valia em termos desportivos, estão acima das nossas possibilidades. Mas nós queremos crescer de forma sustentada».



Um presente da UEFA

Para esse crescimento sustentado é importante ter bases sólidas e este ano o clube recebeu um «presente» que ajuda nessa área. Todos os anos, a UEFA tem por tradição construir um campo de futebol na cidade que acolhe a final da Liga dos Campeões. Em Lisboa, o clube escolhido foi o Oriental. «Para nós é uma infraestrutura importantíssima para os miúdos. Só temos um campo com relva natural, que é onde jogam os seniores. Para as equipas juvenis é preciso alugar campos e os treinos são num terreno quase baldio, num pelado. Este sintético que a UEFA está a construir é um passo de gigante para nós. Aliás, todos os passos são gigantes para nós».

O jogo de uma vida, que quase o fez fugir do quartel

E é passo a passo que se faz este caminho do Oriental rumo ao objetivo da I Liga. «Já estamos fartos de não sermos felizes, agora é a nossa vez. Eu tive a felicidade de ver o Oriental subir à I Divisão e quero que os meus filhos ou os meus netos também a tenham», conta José Fernando Nabais, que abre depois o livro de memórias para partilhar com o
Maisfutebol a melhor recordação que tem do Oriental.

«Foi em junho de 1973, no jogo frente ao União de Coimbra, em que vencemos por 1-0 e subimos pela última vez à I Divisão. O estádio estava cheio. 12 mil pessoas, nunca vi tanta gente num jogo do Oriental», começa por recordar.

E o agora presidente, então adepto, estava disposto a tudo para ver esse jogo. «Eu tinha entrado para a tropa na semana anterior e as regras diziam que no primeiro fim-de-semana não se podia sair. Então preparei tudo para saltar o muro e fugir para vir ver o jogo. Já tinha posto uma nota de 100 escudo de lado, na altura era muito dinheiro, e ia dá-la a uma pessoa que concordou em ajudar-me a fugir. Acabou por não ser preciso porque não havia fardas para mim e para os meus colegas, e deram-nos o fim-de-semana livre, senão saltava mesmo o muro. Era o jogo de uma vida».