CAMINHOS DE PORTUGAL  é uma rubrica do Maisfutebol que visita passado e presente dos clubes dos escalões não profissionais. Tantas vezes na sombra, este futebol em estado puro merecerá cada vez mais a nossa atenção.

ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA SANJOANENSE: 1.ª classificada da Série C do Campeonato de Portugal

A pujança desportiva da Sanjoanense mal cabe nos 7,94 quilómetros quadrados do menor dos 308 concelhos de Portugal.

Pequeno em tamanho, mas grande no desporto. São João da Madeira está no topo do ranking de municípios portugueses em termos de índice de atividade desportiva: mais de dois mil praticantes federados nesta cidade do distrito de Aveiro (mas também da Área Metropolitana do Porto) onde vivem 21 mil habitantes, cerca de 10 por cento da população.

O clube da terra dá um contributo generoso: 1 400 praticantes do futebol ao basquetebol, do hóquei em patins ao andebol, da ginástica à patinagem artística e ao bilhar.

A Sanjoanense é, de facto, uma potência desportiva como há poucas em Portugal.

No futebol, a mais concorrida das modalidades (400 atletas nos diversos escalões de formação), o clube está a ressurgir. Nesta temporada, a equipa lidera a Série C do Campeonato de Portugal e vai disputar os oitavos-de-final da Taça de Portugal.

Apesar de estar em zona de subida à II Liga e de não atingir uma fase tão adiantada da Taça desde 1967/68, em São João da Madeira há quem refreie os ânimos sobre uma possível ascensão da equipa principal aos escalões profissionais do futebol português.

Luís Vargas, 58 anos, presidente da direção, esclarece logo à partida o Maisfutebol sobre as limitações do clube, que condicionam as ambições de subida à II Liga.

«Nos últimos anos reduzimos o passivo de 1,5 milhões para 600 mil euros. Apesar de estarmos num concelho muito industrializado, as empresas não apoiam como dantes, pelo que contamos sobretudo com a ajuda da autarquia e dos cerca de 1 500 sócios pagantes. Nas condições atuais, não temos como sobreviver na II Liga. O orçamento é quase o quíntuplo: de 200 mil euros para quase um milhão. Para darmos esse passo temos de encontrar um investidor, perguntar aos sócios se querem reestruturar o futebol profissionalmente e constituir uma SAD ou uma SDUQ.»

Plantel atual, bem diferente do da década de 60 (foto de capa)

Para já, o objetivo mais imediato é fazer a vida difícil ao Estoril nos «oitavos» da Taça, na próxima quarta-feira: «Estamos esperançados em criar-lhes dificuldades, apesar de o jogo ser fora. Se estivermos no nosso melhor, não será fácil para o Estoril.»

Um clube, duas missões: ecletismo e formação

Luís Vargas integra a direção há oito anos e é presidente há seis, mas a sua ligação à Sanjoanense começou há 46 anos, como jogador de basquetebol, tendo sido também treinador, coordenador e vice-presidente da modalidade.

«Nos seniores masculinos estivemos no primeiro escalão em futebol, hóquei em patins, basquetebol e andebol… Muito poucos clubes em Portugal conseguiram este feito. Atualmente, também não estamos mal: estamos na I Divisão de hóquei em patins, no 1.º lugar na II Divisão – Zona Norte no Andebol, e no basquetebol jogamos na Proliga (segundo escalão nacional)», assinala o presidente, que do futebol tem uma memória esbatida das épocas áureas em que o clube esteve na I Divisão: o triénio de 1966 a 1969, que com a época em 1946/47 completam as quatro temporadas na elite.

Os anos 60 eram os tempos de uma equipa aguerrida, personalizada pelo defesa José Almeida, capitão que dedicou toda a sua carreira ao clube – conhecido por «Malhado» por uma questão relacionada com o tom de pele.

«Era uma figura carismática, exemplo de força, querer, garra… Que, no fundo, era o que caracterizava a nossa equipa nesses anos da I Divisão. Tinha “alma até Almeida”; assentava-lhe, de facto, bem aquele provérbio português.»

Na história da Sanjoanense seguiram-se nomes bem conhecidos do futebol português, que no clube encontram uma escola que os catapultou para os grandes do futebol nacional: António Sousa, António Veloso, Vermelhinho, Rui Correia, Secretário... Atualmente, os escalões jovens da Sanjoanense continuam a ser um celeiro de talentos no futebol nacional, onde se formaram promessas como Gil Dias (no Rio Ave, cedido pelo Mónaco), Paulinho (Liverpool), Edu Pinheiro (Sporting) ou Benjamim (D. Corunha).

«Temos contribuído para a formação de bons talentos nacionais, no entanto, agora eles saem mais cedo», salienta Luís Vargas, que ainda assim não esconde o orgulho pela missão bem-sucedida do clube a que preside: «O futuro do nosso futebol depende em boa parte do papel que temos tido na formação, não só no futebol. Enquanto assim for, estamos satisfeitos com o que conseguimos e o nosso futuro será promissor.»