Carlos Brito é o convidado semanal da entrevista Maisfutebol/Rádio Clube. O treinador do Rio Ave assume sem rodeios ter sido «prematura» a saída dos seus três últimos projectos: Boavista, Nacional e Leixões. Ambicioso, acredita ter qualidade para treinar qualquer um dos três grandes emblemas nacionais.
Passou pelo Salgueiros, Boavista e Estrela da Amadora, três clubes que atravessam uma crise gravíssima. O que é preciso mudar no futebol português para impedir mais situações destas?
Não sei, é complicado. Às vezes parece que o mal do país é sempre o futebol. Têm-se dado passos positivos para melhorar o nosso futebol. A Taça da Liga é uma iniciativa positiva e pode ainda ficar melhor. Aqui em Portugal também podemos jogar várias vezes por semana. Se calhar não há é mercado para tantos jogos.
Num país em que há tantos problemas sócio-económicos, faz-lhe confusão que se fale durante uma semana inteira na arbitragem da final da Taça da Liga?
Se eu dissesse alguma coisa do que se disse sobre o árbitro em questão, já estava irradiado. Sabe porquê? Porque treino o Rio Ave. O jogo foi entre o Sporting e o Benfica e exagerou-se muito no que foi dito. Como profissional de futebol, não me agrada ver uma situação desse tipo. O que é de mais é moléstia.
Saiu do Boavista com a equipa no sexto lugar; deixou o Nacional no sétimo posto e o Leixões cinco pontos acima da zona de descida. Considera ter abandonado prematuramente esses projectos?
Julgo que sim. No caso do Boavista, era perceptível que o clube estava a perder força. Na apresentação ninguém me pediu uma competição europeia, mas eu não me estava a ver a treinar apenas para não descer de divisão. Assumi a luta pela Europa. O Boavista vendeu nove jogadores durante essa temporada. Tivemos sete vitórias consecutivas em Janeiro/Fevereiro, mesmo sem termos um grande plantel. Quando faltava um jogador importante, a equipa ressentia-se um pouco. No penúltimo jogo fomos ao Nacional e perdemos 1-0 e a possibilidade de ir à Taça UEFA. Levei ainda a equipa aos quartos-de-final da Taça de Portugal. Com o que tinha, fiz uma boa época. Daí para cá o clube não conseguiu fazer melhor. Não foi por minha opção que o trabalho não teve continuidade.
No Nacional e no Leixões saiu perto do fim da época...
O Nacional tinha perdido o André Pinto e o Alexandre Goulart, que haviam valido cerca de 30 golos no ano anterior. Mesmo assim estávamos claramente na luta pela Europa. No Leixões, a seis jornadas do fim tínhamos uma posição confortável. Gostei de trabalhar no clube. É uma casa onde se sente pressão e isso agrada-me.
Foi apanhado de surpresa nessas situações?
Não tenho de dizer mal de ninguém, mas de alguma forma fui surpreendido. No Boavista fui substituído pelo Jesualdo Ferreira, por exemplo. Se calhar as pessoas do clube pensavam que podiam voltar à Liga dos Campeões.
Qual é a sua ambição como técnico?
Ficava-me bem dizer que espero treinar um grande, não era? Acho que tenho capacidade para isso. Posso chegar lá e não ser campeão. No início do campeonato há três candidatos e só um vai alcançar o seu objectivo. Mas estou preparado para treinar um dos maiores clubes portugueses.