Há um personagem de uma das séries da moda que veste sempre fato e encerra em si dezenas de chavões, catchphrases e ideias repetidas. Uma delas é a de que na vida dele só há uma regra. E depois muda-a conforme lhe der jeito.

Ora, numa das vezes, dizia ele, então, que na vida só há uma regra: o que é novo é sempre melhor. Claro que rapidamente lhe rebateram a ideia com coisas simples, como whisky ou os novos filmes do «Star Wars». Eu teria usado apenas duas palavras: novo Eusébio.

Poderia, aliás, dizer «novo Maradona», mas, sinceramente, não me apetece falar de DAlessandro.

Por motivos por demais conhecidos, nos últimos tempos Portugal lembrou, discutiu e passou a pente fino a vida e carreira de Eusébio. Ninguém falou do novo Eusébio. O que, a meu ver, mostra que, apesar de tudo, Portugal está bem de saúde.

Mas o novo Eusébio existiu, não adianta esconder. E foi, acima de tudo, uma falta de respeito. Repare que eu nem sequer tenho idade para ter visto jogar Eusébio. Mas nem é preciso. Bastou-me ter visto Akwá. Ou Pepa.

A busca pelo novo Eusébio, que, gosto de acreditar, ficará encerrada com a arrepiante homenagem que o mundo deu ao verdadeiro, mostrando estar acima de qualquer comparação, era uma espécie de demanda pelo Santo Graal do século XXI. Só que mais difícil.

Durante algum tempo, era mais difícil assinar pelo Benfica do que, depois de lá estar, ser comparado a Eusébio.

Como jornalista, percebo, naturalmente, a necessidade de encontrar uma imagem forte para apresentar um desconhecido. Mas será sempre melhor ir por etapas. Antes de dizer que Quintero é o novo Deco, é mais prudente apostar que é o novo Leandro Lima. E depois logo se vê.

Porque se tudo o que o meu avô me contou estiver correto (e ele era lá homem de me enganar...), ser Eusébio não é para qualquer um.

Não basta ter raízes africanas, como Akwá ou Mantorras. Não basta marcar um golo ao Rio Ave e ir explica-lo à televisão, como Pepa. Não basta ser bom no FM, como Freddy Adu. Não basta apanhar Sousa Sintra bem-disposto, como Careca.

Se para mais não tivesse servido, a recente transmissão do Portugal-Coreia do Norte na TVI24 (que delícia!!) mostrou-me o que já me tinham dito: Eusébio é especial. Seria especial nos dias de hoje, porque o talento não tem tempo nem espaço.

O resto é exagero. O que resulta, muitas vezes, em estupidez. Ricardo Araújo Pereira, com a sua habitual ironia (parece incrível, mas há algo que o liga a Pinto da Costa), retratou isso bem, em tempos: «É ridículo continuar à procura de um novo Eusébio quando toda a gente sabe que ele já existe e se chama Mawete Junior».

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