4 de setembro de 1999: Azerbeijão-Portugal, 1-1

9 de outubro de 2004: Liechtenstein-Portugal, 2-2

15 de outubro de 2008: Portugal-Albânia, 0-0

Há jogos entre duas equipas diferentes. Com duas partes distintas. Encontros em que o resultado é bem melhor que a exibição. Com remates que levavam selo de golo e cabeceamentos como mandam as regras, de cima para baixo, a dizer sim à bola. Resultados que obrigam o treinador a meter a carne toda no assador, como diria Quinito. Porque do outro lado está um adversário que colocou o autocarro em frente da baliza.

Quando esses jogos acontecem, os jornalistas costumam escrever tudo o que eu fui debitando até agora. Para chegar ao último dos chavões. Àquele que me eriça a pele: o triste fado da seleção nacional.

Todo um resultado negativo explicado num dedilhado de Carlos Paredes ou num solo da Mariza. Fantástico.

Os deslizes de Portugal em fases de apuramento são um caso crónico, é certo. Citei três, poderiam ser muitos mais. Arménia, Malta, Irlanda do Norte... Já demos pontos a todos eles. Acho que ainda falta perceber que isto de dar pontos aos outros países é só no Festival da Canção.

Portugal fá-lo frequentemente. Mais do que seria suposto. Por ventura para manter a ideia de país simpático. Bons anfitriões e bons turistas. «Comam bem, bebam melhor e levem um pontinho. Ou três, sem problema, que a gente cá se arranja». E depois até fazem falta.

Por isso, Portugal é um estado Like.

O Like é o etc. do século XXI. Sobre o etc. aprendi ser a desculpa dos preguiçosos ou dos ignorantes. O Like é a desculpa dos tímidos ou dos simpáticos. Como Portugal.

Há sempre uma altura em que não apetece estragar uma festa, melindrar aqueles tipos porreiros que estão contentes por aparecer na televisão e vestir a cor do país. Mais tarde ou mais cedo, vai surgir um jogo para olhar, sorrir e fazer um Like. Deixando dois pontos. Ou três.

Um Like para o Azerbeijão que nos emprestou o Kassoumov. Um Like para o Lietchenstein que mandou para cá o Peter Jehle. Um Like para Malta porque o Zeca Afonso meteu-a numa canção. Um Like para a Arménia porque é nome de mulher portuguesa.

E nós reagimos sempre com uma cara de surpresa ainda maior do que a da menina do Kinder Delice quando abre a lancheira.

É que se o Like é do século XXI, esta tradição de distribuir simpatia vem mais de trás. Likes antes de existirem Likes. Apresento-vos Ady Schmit, o luxemburguês que fez um «hat-trick» ao Portugal de Eusébio, Coluna e companhia numa humilhante derrota por 4-2. Um Like para os emigrantes.

O Facebook é recente, mas o Like português é crónico. Se Mark Zuckerberg fosse vivo, talvez D. Afonso Henriques não montasse no cavalo para escorraçar os mouros. Se calhar até lhes fazia um Like. E sabem o que iam dizer? É o triste fado da reconquista cristã.

«Cartão de Memória» é um espaço de recordação dos mais míticos jogos do século XXI, da autoria de João Tiago Figueiredo. Pode sugerir-lhe outros momentos através do Twitter.