Filipe Martins, treinador do Casa Pia, em declarações aos jornalistas após o jogo com o FC Porto para a 15.ª jornada da Liga:

[Festa no balneário?]

«Não houve festa exacerbada, porque não ganhámos nada. É mais um ponto na nossa caminhada e acredito que os meus jogadores estejam contentes, tal como eu também estou. Defrontámos o campeão nacional, uma grande equipa, com dez jogadores durante toda a segunda parte. Não é uma vitória, mas é algo que nos deixa orgulhosos, porque fomos muito competentes. Se não fôssemos, não tínhamos hipóteses nenhumas de levar daqui um ponto.»

[Como viu o lance da expulsão?]

«Nunca falei de arbitragem e espero não quebrar o princípio que tenho desde que sou treinador, que é não comentar arbitragem. Propus-me a não comentar quando sou beneficiado ou prejudicado. Mesmo eu tivesse uma opinião formada, não comentaria. É um princípio que tenho e não leve a mal.»

[Quando o Casa Pia ficou reduzido a dez, sentiu que já não havia muito mais a fazer na segunda parte, ou continuou a sentir que era possível contrariar na mesma o FC Porto?]

«Não era a primeira vez que uma equipa ganhar com dez. Já perdi com dez, contra dez e já ganhei com dez. Houve duas estratégias que nos passaram pela cabeça ao intervalo: retirar o Godwin, que não defende tanto, montar um 5x3x1 e deixar o Clayton, que segura melhor a bola; mas também iríamos precisar depois que o meio-campo chegasse à frente e seria um desgaste muito grande. Otámos por deixar o Godwin na frente e tentar a transição. Sabíamos que o FC Porto ia abrir os seus centrais e meter muita gente dentro do nosso meio-campo e numa perda de bola poderíamos eventualmente sair uma ou outra vez. Aconteceu, mas de uma forma muito isolada. Optámos por meter o João [Nunes] a fechar o corredor direito. Sabíamos que não ia dar-nos a profundidade que o Lucas no dá, mas que ia dar-nos algum conforto defensivamente e no esquema tático.»

[Época acima das expetativas. Como é que isto se explica e como pode o Casa Pia superar-se a partir daqui?]

«Cada jogo é um jogo. Esta semana, fosse contra dez ou contra 11, houve uma ideia que se ouviu muito dentro do balneário e nos treinos. ‘Temos de saber sofrer’. Sabíamos que íamos jogar contra uma equipa muito intensa, que tem um plantel fantástico e que é muito forte no ataque à profundidade como no jogo entrelinhas. E acho que a primeira e a segunda parte foram o exemplo disso. Na primeira parte quando nos estemos um pouco mais tivemos alguma dificuldade em controlar os movimentos do Otávio e do Taremi entre a nossa linha média e defensiva. Na segunda parte, ao termos de baixar o bloco, tivemos algumas dificuldades também a fechar os corredores. Reconhecemos também que na segunda parte e ali nos primeiros 10/15 minutos da primeira também tivemos uma pontinha de sorte.»

[Casa Pia já não é a equipa-sensação, mas a equipa-confirmação da época. O objetivo é lutar pela permanência ou é possível sonhar com algo mais?]

«Aceito perfeitamente que me façam essa pergunta. Mas temos de ter os pés bem assentes no chão e ainda não chegámos ao final da primeira volta. Temos uma margem que não deve ser encarada como uma margem de conforto, mas sim de alento. Temos margem para desfrutar do jogo, para tentar cada vez mais evoluir o nosso processo porque acreditamos que esta equipa ainda tem muita coisa que pode evoluir, principalmente no processo ofensivo. Foi mais um ponto na nossa caminhada, muito importante por ser contra o campeão nacional e por todas as vicissitudes do jogo. No entanto, acho que é muito cedo para estarmos a reformular objetivos.

O Casa Pia sofre um processo de reestruturação, até ao nível de infraestruturas e não podemos pensar em mais nada do que no próximo treino e no próximo jogo. E acredito no futuro: a médio/curto prazo, se o Casa Pia continuar a evoluir como tem feito, pode aspirar a outras coisas.»

[27 pontos, 5.º lugar à 15.ª jornada. Se pudesse definir numa palavra aquilo que tem sido o Casa Pia nestes primeiros meses de regresso à liga, que palavra utilizaria e porquê?]

«Espírito de grupo. Acho que é o que faz esta equipa ser especial. É normal que haja depois um ou outro jogador que faz a diferença e que sobressai, mas acho que esta equipa, e ainda na semana passada jogámos sem dois jogadores que são os que têm mais mercado e demos na mesma uma excelente resposta. O Lelo não está, o Poloni assume a despesa. Como outros: já rodámos bastante a nossa linha defensiva e continuamos competentes. Acima de tudo, há muita humildade neste grupo e volto a dizer: temos de ter os pés no chão e sabemos que não podemos facilitar, porque no futebol passa-me facilmente do 80 para o 8.»